Os anos de espera que causaram desconforto aos moradores Vila Valneri Antunes parecem estar sendo prolongados. Isso porque mesmo depois da transferência das famílias da área onde moravam — uma ocupação no Parque Chico Mendes, na região do bairro Mário Quintana — para o loteamento Irmãos Maristas — mesmo espaço que recebe as famílias reassentadas da Vila Nazaré —, os problemas continuam.
Se no local onde viviam antes, os moradores não podiam mais intervir em suas residências com reformas e manutenção, pois teriam de sair a qualquer momento, nos novos apartamentos, os problemas já estão lá desde a chegada.
As condições dos prédios entregues pela prefeitura no loteamento Irmãos Maristas já vem levantando discussões há algum tempo. Antes mesmo das famílias da Vila Valneri Antunes, moradores da Nazaré também reclamaram e um dos prédios chegou a ser evacuado, passando por vistorias posteriores que permitiram o retorno à moradia. Neste caso, o principal fato de incômodo eram rachaduras nas paredes e no piso dos apartamentos.
Vistoria feita nos locais confirmou que os danos não representavam risco à estrutura. Porém, ninguém quer se responsabilizar pelo conserto destes problemas, como contam as famílias que agora chegaram ao local, encontrando situações além das rachaduras nos pisos.
Mudança
Em dezembro de 2020, o Diário Gaúcho mostrou como a estudante de Biblioteconomia Priscila do Nascimento Silva Santos, 27 anos, estava feliz por ter escolhido o apartamento onde iria morar e assinado seu contrato com a Caixa Econômica Federal (CEF). Na época, a reclamação dos residentes da Valneri Antunes era pela demora do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) em fazer as mudanças das famílias. O imbróglio envolvendo as vistorias e os problemas apontados por moradores da Nazaré que chegavam ao local ocasionou isto. Mas, as famílias da Vila Valneri Antunes ainda não sabiam o que iriam encontrar.
No apartamento de Priscila, por exemplo, rachaduras, registro do banheiro quebrado, problemas na vedação do vaso sanitário, são alguns dos problemas. Ela conta que, antes de chegarem ao local, as famílias ouviram do Demhab a garantia que os pontos haviam passado por vistoria.
— Só que ao chegarmos aqui, descobrimos algumas rachaduras no piso, no marco das portas, nos corredores e nas paredes de áreas privadas e comuns. Comunicamos a empresa responsável, mas eles se isentam dos problemas — reclama a moradora.
Construtora
A construtora responsável é a Direcional Engenharia, empresa com sede em Minas Gerais. Isso também dificulta o contato entre famílias e construtora, pois os retornos são demorados e as promessas não são cumpridas. Desde a mudança, as famílias esperam o envio de técnico para avaliação dos problemas encontrados. Além disso, a empresa exige que os moradores apontem os problemas já na entrega das chaves, mas situação com o desnível dos pisos, que faz com a água do box escorra para fora do banheiro e não para o ralo, só é perceptível com o uso dos locais.
— A gente vem enfrentando problemas desde que recebeu apartamento, não é um caso isolado de uma família, são diversas famílias. A gente tentou de diversas formas conversar com a Direcional, ficaram de vir aqui e não vieram, ficaram de arrumar o banheiro, não arrumaram e disseram que não tem prazo para arrumar — lamenta Priscila.
Outra moradora, Adriana Rodrigues Marques, 48 anos, também enfrenta os mesmos problemas em seu apartamento. Na hora do banho, os moradores acabam tendo que colocar panos junto ao box, para evitar que a água escorra para outras partes da casa.
Visita
Na sexta-feira, o secretário André Machado, titular da Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária (SMHARF), visitou o loteamento Irmãos Maristas e alguns dos apartamentos indicados por moradores. Conforme André, alguns trabalhos já foram feitos durante o final de semana e outros ainda serão executados. Ainda assim, o secretário reforça que alguns problemas decorrem do mau uso das residência. Por isso, há um trabalho social sendo realizado na área para ajudar na adaptação dos moradores em seus apartamentos.
Reparos somente em danos oriundos da construção
A SMHARF, através do Demhab, afirmou que "presta auxílio às famílias que passam a morar em novos loteamentos", mas alerta que "há competências bem delimitadas sobre as ações que devem ser tomadas após as mudanças". Segundo o Demhab, no caso de reparos nos apartamentos, a empresa Direcional tem a responsabilidade de realizá-los pelos cinco anos que seguem a entrega do empreendimento. Mas, os reparos são só são feitos em caso de constatado problemas na infraestrutura, ou seja, danos oriundos da construção.
Esforço
A pasta explicou também que, na semana passada, "a empresa centrou seus esforços, entre segunda e quarta-feira, na conclusão de casas do loteamento que serão entregues nos próximos dias e nas quais morarão mais famílias vindas da Vila Nazaré". Por isso, o departamento assume que "pode ter havido deficiência no atendimento às demandas".
A Direcional, afirmou, em nota, que "todo o empreendimento foi executado conforme projetos aprovados nos órgãos competentes e de acordo com as diretrizes preconizadas em normas. Inclusive, antes da entrega, o empreendimento foi vistoriado e sua liberação aprovada. A Construtora mantém seus canais de atendimento técnico à disposição dos proprietários das unidades para assistência e devidos esclarecimentos."