Em meio à aceleração da circulação do coronavírus e ao aumento do número de leitos de UTI ocupados, Porto Alegre vive também a transição de governo e, consequentemente, da equipe que vai liderar o enfrentamento à doença. A duas semanas do fim do mandato, o prefeito Nelson Marchezan planeja não tomar medidas "extremamente restritivas", embora admita a possibilidade de novos decretos em caso de necessidade.
— Estamos em uma semana de Natal, onde o comércio, os serviços, os restaurantes e os bares têm expectativa de uma sobrevida. A gente tem um anúncio de que todas as multas e penalizações por desobediência a orientações epidemiológicas serão anuladas (pelo futuro governo). (...) E a gente tem um anúncio de que essa política de isolamento vai mudar a partir de janeiro. Será outra forma de contenção. Então, se a gente puder não ter medidas extremamente restritivas, não as tomaremos, em virtude de que nós perdemos a eleição.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta sexta-feira (18), Marchezan disse que tem uma relação "extraordinária" com o prefeito eleito, Sebastião Melo (MDB), e que a transição ocorre de forma pacífica. No entanto, criticou a estratégia de governo que se anuncia, afirmando que a política de isolamento não será mais prioridade.
— O discurso que ganhou a eleição foi o discurso de que as atividades podem continuar funcionando, com protocolos, de forma normal. Nós não entendemos que isso seja possível em momentos de alto risco, como o que parece que vivemos agora — afirmou.
Marchezan garantiu, no entanto, que irá agir se for necessário editar novos decretos por questões de saúde:
— É evidente que se tiver que tomar uma medida de urgência, a gente vai tomar, em relação específica a essa questão de restrições. Vejo que talvez se tenha essa necessidade do ponto de vista de análise exclusivamente da saúde.
Na tarde de quinta-feira (17), as UTIs de Porto Alegre registravam 302 pacientes com covid-19, o maior número desde 21 de setembro. Este foi o quinto dia seguido em que a Capital registrou aumento no indicador.
Bandeira própria
Em reunião na quinta-feira com o governador Eduardo Leite, o prefeito eleito, Sebastião Melo, levantou o assunto de uma bandeira própria para Porto Alegre no sistema de distanciamento controlado. Assim, a Capital teria mais liberdade para definir atividades econômicas.
O regramento próprio já era defendido por Marchezan, que conversou sobre a questão com o sucessor. Segundo o atual chefe do Executivo, o modelo facilitaria a atividade de empreendedores e possibilitaria a análise de especifidades da cidade:
— A estratégia do governo de botar critérios e orientações gerais de alertas é corretíssima, deu certo e deve permanecer, mas políticas muito específicas para todos os municípios de forma idêntica não nos parece o caminho correto do ponto de vista epidemiológico. Quem tem capacidade técnica para analisar peculiaridades municipais são os municípios, até porque têm competência legal. Então eu concordo com o prefeito eleito, mas nós nunca obtivemos isso.
Vacina e outros assuntos
Segundo Marchezan, Porto Alegre está preparada para a campanha de vacinação contra o coronavírus, quando for possível. O prefeito lembrou a imunização contra a gripe feita em 2020, que contou com doses aplicadas em casa, em farmácias e em drive-thrus.
De acordo com o prefeito, o próximo gestor poderá fazer uma "opção orçamentária" por uma vacina própria, o que poderá exigir também estrutura de manutenção das doses em baixas temperaturas.