Criador de um dos cachorros-quentes mais tradicional de Porto Alegre, o empresário Osmar Ferreira Labres morreu na manhã deste sábado (26), a0s 83 anos. Internado há sete dias na Fundação Universitária de Cardiologia, na Capital, ele foi vítima de choque séptico e de acidente vascular cerebral.
Natural de Bom Retiro do Sul, no Vale do Taquari, Labres começou a vender cachorro-quente em uma carrocinha ao lado do Colégio Rosário, no bairro Independência, em 1962. A delícia ganhou fama, que se espalhou pela Capital. A receita do molho veio da mãe de Labres, que trabalhava como cozinheira em um bar de Taquari. Curiosamente, o cachorro não continha milho, pois o empresário considerava que o vegetal estragava fácil e poderia fazer mal ao cliente. Em entrevista ao programa Mãos e Mentes, da TV COM, Labres comentou qual seria o segredo para o sucesso do seu cachorro-quente:
— Usar sempre a melhor mercadoria. Eu penso no cliente, não tanto em lucro. Coloco sempre o que há de melhor.
Ante da carrocinha, ele trabalhou como marceneiro e mestre-de-obras. Seu sonho sempre foi ter o comércio próprio. Então, viu o ponto ao lado do colégio como uma oportunidade. Largou seu emprego na construção civil e começou a vender cachorro-quente, alimentando (e lambuzando) gerações de porto-alegrenses.
Inicialmente, o negócio teve outros nomes — Cachorro do Banzé e Cachorro do Perdigão. Mas a carrocinha ficou bastante associada ao ponto, e a clientela passou a chamá-la de Cachorro do Rosário. No entanto, esse nome traria um imbróglio mais adiante.
Em 1975, Labres passou a contar com a ajuda de Eli Monteiro da Rosa, um menino de 12 anos que foi morar com ele e o considerava pai. Segundo os autos do processo judicial, em 1996, por problemas de saúde, Labres delegou a administração a Rosa, que, mais tarde, expandiu o negócio e criou um sistema de franquias. Ele chegou a ter quase 40 pontos pelo Estado — hoje, tem 10 na Região Metropolitana e no Litoral Norte.
Os dois passaram a travar uma batalha judicial depois que Labres se desentendeu com o seu filho de criação, que, estando à frente dos negócios, providenciou o registro em seu nome à revelia da vontade do pai. Depois de oito anos de disputa judicial, houve um novo desfecho neste ano. Pela decisão da 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), o nome Cachorro do Rosário segue pertencendo à rede de lancherias.
A carrocinha continuou atuando ao lado do Colégio Rosário, mas agora com o nome de Cachorro Quente do R. No materiais de divulgação, foi acrescentado o seguinte slogan: "O original desde 1962, recuse imitações". Agora, os filhos de Labres devem cuidar do negócio.
Labres deixa três filhos: José, 58 anos, Fernando, 54, e Raquel, 23. Segundo José, seu pai ficou bastante abalado com a derrota mais recente na Justiça. Também sofria com problemas de saúde. Porém, ele seguia em frente, mesmo na pandemia.
— Até os seus últimos dias, seguiu produzindo seus molhinhos de cachorro-quente. Ele gostava muito do que fazia — recorda José.
Velório e sepultamento
Labres está sendo velado no Cemitério Jardim da Paz (Avenida João de Oliveira Remião, 1347), em Porto Alegre, na capela J, até as 11h deste domingo (27). Por conta da pandemia, a capela pode receber somente 15 pessoas de cada vez, em revezamento, seguindo todos os protocolos. A partir das 11h, terá início o seu translado para o Cemitério Cruz das Almas, em Bom Retiro do Sul, onde será sepultado às 17h.