Sem energia elétrica desde a tarde de domingo (13), quando um temporal atingiu Porto Alegre, moradores da Zona Sul contabilizam prejuízos e reclamam da falta de previsão para o restabelecimento do serviço. Parte dos atingidos chegou a medidas extremas, inclusive, como sair às ruas em busca de equipes de manutenção da CEEE e até mesmo ir à sede da companhia, após seguidas tentativas de atendimento por telefone.
No condomínio Quinta da Bela Vista, no bairro Aberta dos Morros, rondas foram organizadas, na noite de segunda (14) e na manhã desta terça-feira (15). Localizado na Estrada Jorge Pereira Nunes, o residencial tem 40 casas — apenas duas, com gerador próprio, estavam com luz no começo desta manhã.
O policial federal Marco Antônio de Souza, 55 anos, saiu de casa nas primeiras horas do dia, em busca de uma solução.
— Já mandei 400 mil torpedos, liguei no 0800. A resposta é padrão: entendemos o seu problema, mas tem que aguardar. Então eu peguei o carro e fui até a Restinga tentar achar alguém — contoua.
O procurador da Fazenda José Rodrigo, 42 anos, foi além: dirigiu uma hora, até uma das sedes da companhia de abastecimento, no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital.
— Eu estava desesperado, queria entrar na empresa e pedir uma providência. Os seguranças me acalmaram, sei que eles não têm culpa — ponderou o homem, cuja casa também está sem água, pois o único reservatório depende de uma bomba elétrica para preencher o nível e abastecer as torneiras.
Na geladeira do auditor Marcos Shabar, 49 anos, maionese, ketchup, hambúrgueres e outros congelados irão para o lixo. No freezer da garagem, cerca de 100 quilos de carne estão estocados, necessidade de quem mora distante de um supermercado — a região é acessada apenas por uma estrada vicinal.
— Se a carne estragar, de quem eu cobro? Se eu não pagar a conta, a CEEE vem e corta minha luz — disse.
De acordo com o síndico do condomínio, o servidor aposentado José Luís Régis da Silva, 67 anos, o conserto necessário era simples: a religação de dois disjuntores, desarmados no poste em frente à rua.
— A CEEE consertou a luz na rua toda, em todo o bairro, e aqui a gente precisa só que eles liguem o disjuntor — afirmou.
Meia hora após o grupo de moradores do condomínio ser entrevistado na Rádio Gaúcha, às 8h45min, a CEEE informou que iria mandar uma equipe ao local, para religar os disjuntores. Às 10h15min, a energia voltou ao residencial.
Moradores de condomínio estão ilhados
No Lami, no extremo-sul da cidade, quatro postes tombaram sobre uma das ruas do condomínio Campos do Lamy. A via, que dá acesso a 15 dos 25 lotes, está intransitável pelas estruturas caídas. A família do guarda municipal Adalberto Oliveira, 56 anos, está ilhada.
— Se precisar sair de carro, nem no mercado a gente consegue. Convidei minha esposa pra caminhar, sair de casa, mas ela está em estado de choque.
Sem luz, os condôminos estão também sem água, que é captada da chuva e bombeada por energia elétrica. O síndico José de Marco, 65 anos, vive há 16 anos no local, desde sua inauguração.
— Nunca ninguém imaginou isso. Não tem um plano B para sair lá do fundo do condomínio. O pessoal está apavorado.
Há, ainda, outros quatro postes inclinados dentro do condomínio. A responsabilidade de troca é da CEEE, que já foi contatada pelos moradores.
Dona de um sítio com 400 cães, Rejane Velho Ferreira, 47 anos, guardou água em calhas e caixas d'água espalhadas no pátio. O cuidado foi para não precisar ter de contratar caminhões-pipa.
Já o dono do Mercado Extremo-Sul terá de descartar um freezer repleto de potes de sorvete e picolés. O empresário Diego Moraes, 39 anos, estima as perdas em R$ 2 mil.
— A empresa de sorvete não vai me pagar, não é culpa deles. E não é a primeira vez — reclama.
O que diz a CEEE
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, na Rádio Gaúcha, o diretor de distribuição da CEEE, Giovani Francisco da Silva, avaliou os motivos que acarretam na demora da recomposição da energia.
— Neste momento, a gente vive uma situação totalmente atípica. Temos 182 eletricistas afastados por restrições (atestados) e 90 por covid-19 — afirmou Silva. — Vivemos um momento muito difícil na empresa. Estamos prestes a privatizá-la. Para motivar a equipe é bem difícil.
Ouça a entrevista: