A limitação do horário de atendimento presencial até as 22h, decretada pelo governo do Estado na terça-feira (1º), desagrada donos de bares e restaurantes de Porto Alegre. A medida entrou em vigor já na noite passada.
Na manhã desta quarta-feira (2), a reportagem de GZH circulou por cerca de uma dezena de estabelecimentos dos bairros Petrópolis, Centro Histórico e Cidade Baixa, e percebeu um descontentamento geral dos empresários, com medo inclusive de que a nova determinação force o fechamento de parte do comércio.
O reforço do caixa, esperado como compensação aos meses afetados pela pandemia do coronavírus, não deve ocorrer no Marcellu's Rodízio de Filés. O restaurante servia em torno de 400 almoços por dia, segundo a gerente Débora Costa. Atualmente, vende entre 70 e cem. À noite, segundo a funcionária, o movimento cresce a partir das 20h.
— As pessoas saem de casa para jantar as oito. Se é pra abrir só até as 10, melhor nem abrir. Melhor fechar — afirma.
A responsável pelo restaurante questiona a falta de fiscalização em parques, praças e em festas clandestinas:
— Por que não fiscalizam essas aglomerações dos jovens? Eles chegam em casa e passam (coronavírus) para os pais e para os avós. Tem medidas melhores a se tomar do que restringir restaurante, que nem chega a 50% da lotação.
A Lancheria Call Burguer fecha as portas, todos os dias, às 18h, para evitar aglomerações. Com a nova restrição, a retirada no balcão pode ser feita até as 23h, assim como a telentrega e o drive-thru. Fechando muito antes do permitido para evitar aglomerações, os funcionários temem que o local reduza o quadro.
— Estava melhorando, agora já está caindo de novo o movimento. Espero que não feche, dependo do emprego para pagar meu aluguel — diz a atendente Valéria dos Santos, 23 anos.
Também na Cidade Baixa, o Kemono Sushi restringiu os pratos ao delivery. O bufê, principal fonte de renda do restaurante, seria reaberto neste fim de ano, de acordo com a sócia da casa, Daiana Costa Godoi.
— As constantes mudanças nos afetam muito, desde o início da pandemia. A ideia era reabrir nesta semana para consumo no local, mas as limitações prejudicam a nós, que somos pequenos — reclama a empreendedora.
Em uma das esquinas mais movimentadas da região, das ruas República e Lima e Silva, o ReiPública Lanche e Bar enfrenta a dificuldade em dispersar quem compra no estabelecimento e consome na calçada.
— A gente pede para o pessoal não fazer aglomeração, não ficar na porta, mas é difícil. Um vem e compra, aí juntam vários e acabamos sendo multados — conta o gerente Elias dos Santos.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Rio Grande do Sul (Abrasel-RS) encaminhou, ainda na terça-feira, um ofício para o governo do Estado solicitando mudanças no decreto. A principal reivindicação é quanto ao horário de funcionamento. No entendimento da Abrasel-RS, o turno da noite é o que mais atrai público, e a restringir pode afetar o faturamento em mais de 50%, estima a entidade.
Pela prefeitura de Porto Alegre, os locais têm autorização de funcionar duas horas a mais — a regra foi publicada em 5 de novembro. No atual decreto municipal, o funcionamento dos restaurantes, bares, padarias, lojas de conveniência, lancherias e similares, inclusive localizados dentro de shoppings, fica permitido das 6h às 24h. É esperado, ainda nesta quarta-feira, um decreto mais rígido, e mudanças no setor também devem ocorrer a partir de exigência do Executivo da Capital.
O governo estadual argumenta que as novas restrições visam combater o avanço da pandemia. Na última atualização, 19 das 21 regiões que representam os municípios foram definidas como bandeira vermelha no mapa de distanciamento controlado, um dado preocupante em relação a ocupação dos leitos para tratamento da covid-19.