As primeiras horas da manhã do Dia de Finados foram de pouco movimento nos cemitérios do bairro Azenha, em Porto Alegre. Desde a madrugada, segundo os comerciantes de flores e arranjos da área, algumas pessoas foram vistas acendendo velas, uma circulação discreta e menor do que a de 2019, de acordo com a florista Tatiane Vargas, 38 anos.
— Não é pela covid, porque tu vê muita gente viajando. As rodovias estão cheias. E a tradição parece ter se perdido um pouco — afirma a dona da banca Luci, criada pela mãe há cerca de 50 anos.
Para organizar o trânsito de pedestres e de veículos, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) distribuiu cones sobre a pintura das faixas da Avenida Oscar Pereira. Parte das vagas de estacionamento foi interditada.
Ao longo do dia, missas e cultos terão 30% da capacidade, conforme as normas para garantir o distanciamento social. Todas as instituições fornecerão álcool gel e terão equipes para orientar e monitorar os visitantes, a fim de evitar aglomerações. O uso de máscara será obrigatório.
Com cabelos brancos, sentada em uma cadeira plástica, uma das mais antigas vendedoras preparava um buquê de lírios no começo do dia. Zilda Vieira, 73 anos, retira a "lingueta" para evitar que as flores brancas fiquem manchadas.
— A minha mão fica assim ó, toda manchada, mas a flor fica bonita — explica.
Com a profissão, ela criou três filhas e seis netos. A banca foi herdada da mãe, há mais de 70 anos. Bem humorada, provocando os colegas, ela reclama apenas quando fala que o movimento deve ser pequeno em 2020, se comparado aos últimos anos. Mas logo volta a contar histórias.
— Eu me criei correndo no cemitério, quando criança. Tenho medo é dos vivos, os mortos não fazem mal a ninguém — afirma.
Ajeitando flores brancas e azuis sobre um túmulo bem cuidado no cemitério da Santa Casa, a professora Cristina Weschenfelser Dias, 43 anos, chegou ao local às 7h45min. As cores são homenagem ao Grêmio, time de coração do pai, falecido há cinco anos. A escolha do horário foi para evitar aglomerações, e as visitas ao lote, conta, acontecem o ano inteiro.
— É uma tradição que começou com a minha avó. Ela sempre pediu pra gente cuidar, e com minhas cinco irmãs fazemos isso — explicou a docente.
Além do pai, o avô e os bisavós estão sepultados no mesmo espaço, adquirido pela família no início do século passado.
Já na Zona Norte, o cemitério municipal São João também tinha pouca movimentação no início do dia. Às 8h30min, um grupo foi visto realizando uma oração. Em círculo, o grupo usava máscaras de proteção e mantinha distância, sem tocar as mãos. Viaturas da Guarda Municipal circularam pelo trecho, no bairro Higienópolis.
Já próximo das 11h, os cemitérios da Capital registraram o maior movimento da manhã. Havia familiares limpando os túmulos e repondo os arranjos, e funcionários auxiliando na entrega de produtos de limpeza.
Com um pano, a pensionista Marilene Roos, 73 anos, tirava o pó do jazigo onde estão os restos mortais dos pais e dos avós.
— Eu acho importante cuidar, venho todo ano — disse a mulher, que estava sozinha, distante dos demais frequentadores do cemitério municipal São João.
O movimento foi maior, e com transtornos no trânsito, no bairro Azenha. Na Avenida Oscar Pereira, os motoristas tiveram dificuldade em estacionar, e muitos táxis foram deslocados para auxiliar a população.
Mesmo com o aumento no fluxo, os administradores do Cemitério da Santa Casa estimam uma queda de 70% no movimento. Um dos túmulos mais visitados foi o do músico gaúcho Teixeirinha, cuja estátua estava adornada por rosas e buquês.
A técnica de enfermagem Lúcia Zatt, 69 anos, apontava para o túmulo do ídolo e relembrava de quando o conheceu.
— Morei perto da casa dele. Era um homem muito querido — disse, enquanto rezava ao lado de outros fãs.
Jurandir Elias Medeiros da Silva, 29 anos, levou um rádio de pilhas com um pen drive. Ao som de Teixeirinha e Mary Terezinha, observava a estátua do ídolo.
— Aprendi com meus pais e minha avó. Só escuto Teixeirinha, e meu sonho é ser acordeonista, como ela.
Cemitério Ecumênico João XXIII
Endereço: Avenida Natal, 60, bairro Medianeira
Horário de visitação: das 8h às 18h
- Das 8h às 18h, todos os visitantes do cemitério receberão rosas e poderão escrever mensagens póstumas para seus entes queridos na Árvore das Memórias;
- Às 10h, será realizada uma bênção inter-religiosa virtual nas redes sociais da instituição;
- Às 11h30min, ocorrerá a cerimônia de inauguração do painel Borboletas, uma pintura de 15 metros quadrados, do artista plástico gaúcho Tiago Berao, em homenagem às vítimas da covid-19. A obra ficará em exposição permanente no principal andar de circulação do cemitério.
Cemitério Jardim da Paz
Endereço: Estrada João de Oliveira Remião, 1.347, bairro Agronomia
Horário de visitação: das 7h às 19h
- As missas serão realizadas às 9h, 10h, 11h, 13h, 15h, 16h e 17h;
- Às 8h30min, haverá o culto da Comunidade Evangélica de Porto Alegre (IECLB);
- Às 12h, será realizado o culto da Comunidade Evangélica Luterana da Cruz (IELB);
- Às 14h, ocorrerá o culto da Igreja Adventista do Sétimo Dia;
- Haverá limite de 30 pessoas por cerimônia. As celebrações também serão transmitidas pelo Facebook do cemitério.
Cemitério Luterano
Endereço: Avenida Professor Oscar Pereira, 977, bairro Azenha
Horário de visitação: das 7h30min às 18h30min
- Devido à pandemia, o cemitério não terá nenhuma programação especial, mas estará aberto para visitação.
Cemitério Memorial Martim Lutero
Endereço: Rua Guilherme Schell, 467, bairro Santo Antônio
Horário de visitação: das 7h às 19h
- Às 10h30min, haverá um culto ao ar livre. Em caso de chuva, o evento será cancelado.
Cemitério Santa Casa
Endereço: Avenida Professor Oscar Pereira, 423, bairro Azenha
Horário de visitação: das 8h às 18h
- Haverá uma missa às 16h, mas, devido às medidas de distanciamento social, a igreja poderá comportar somente 30% de sua capacidade (em torno de 30 pessoas). Por isso, a cerimônia será transmitida ao vivo pelo canal do cemitério no YouTube.
Cemitério São João
Endereço: Rua Ari Marinho, 297, bairro Higienópolis
Horário de visitação: das 8h às 18h
- Devido à pandemia, o cemitério não terá nenhuma programação especial, mas estará aberto para visitação.
Cemitério São Miguel e Almas
Endereço: Avenida Professor Oscar Pereira, 400, bairro Azenha
Horário de visitação: das 8h às 18h
- Devido à pandemia, o cemitério não terá nenhuma programação especial, mas estará aberto para visitação.
Cemitério Vila Nova
Endereço: Avenida Monte Cristo, 810, bairro Vila Nova
Horário de visitação: das 8h às 19h
- Devido à pandemia, o cemitério não terá nenhuma programação especial, mas estará aberto para visitação.
Crematório Metropolitano
Endereço: Avenida Professor Oscar Pereira, 584, bairro Azenha
Horário de visitação: das 8h às 18h
- Às 10h e às 11h, live com os poetas Allan Dias Castro e Fabrício Carpinejar marcará o lançamento da grande homenagem do Grupo Cortel aos finados: um vídeo com o acendimento de aproximadamente 50 mil velas nos nove empreendimentos do conglomerado. A live será transmitida no Instagram, Facebook e YouTube do grupo.
- Durante o dia, os visitantes do crematório poderão acender suas velas e fazer homenagens a seus entes queridos.
- Também haverá um drive thru solidário, com o intuito de arrecadar alimentos que serão doados ao Banco de Alimentos.
- Ao longo do dia, serão realizadas diversas lives, que podem ser acompanhadas nos canais citados acima ou presencialmente, neste caso, com capacidade reduzida e participação por ordem de chegada. Confira a programação das transmissões:
- 9h, missa com bispo Dom Leomar Antônio Brustolin;
- 10h, live com Fabrício Carpinejar, em um bate-papo sobre sentido da vida, luto e memória, com mediação de Laura Medina;
- 11h, live com Allan Dias Castro, que falará sobre ressignificar a perda e a saudade, além do lançamento do vídeo A Maior Homenagem de Velas do Mundo;
- 13h, culto evangélico com Getúlio Soares Vargas;
- 14h, celebração luterana com ministro da IECLB;
- 15h, palestra espírita com José Carlos Bandeira, presidente da União Municipal Espírita (UME) de São Sebastião do Caí, Feliz e São Leopoldo, e Neiva, diretora doutrinária da UME;
- 16h, live do encontro inter-religioso com membros das seguintes religiões: Budista, Cristã, Espírita e Filosófica;
- 17h, missa com arcebispo emérito Dom Dadeus Grings e o apagar da Chama da Saudade.