A empresa responsável pela fabricação da torre de caixas-d'água, cuja estrutura balançou no final de semana em um conjunto residencial na Restinga, na zona sul de Porto Alegre, resolveu o problema. Na terça-feira (29), um laudo demonstrou a necessidade de substituição das porcas de sustentação da estrutura, que tem 30 metros de altura. O serviço foi realizado na quarta-feira (30), com a colocação de 16 porcas — antes eram oito.
Depois disso, um novo laudo técnico foi emitido e encaminhado para a construtora Dalmás, responsável pelo empreendimento, e para a Defesa Civil municipal, que liberou o retorno das famílias para os seus apartamentos.
— A empresa concluiu os reparos para a estabilidade do reservatório. A capacidade está reduzida em razão da deterioração, o que não afeta a estrutura. Ela está estável e não tem risco de queda. Por isso, permitimos o retorno às moradias — explica o diretor-geral da Defesa Civil de Porto Alegre, coronel Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior.
O abastecimento de água ainda está reduzido porque, com os efeitos do vento, a estrutura acabou sendo danificada. Atualmente, só 30% da capacidade de uma das duas caixas do reservatório, a menor, que comporta 27 mil litros, está sendo usada. A outra caixa tem capacidade para 32 mil litros, mas está desligada, pois precisa de manutenção e limpeza. Ou seja, os 80 apartamentos abastecidos pela torre têm apenas cerca de 8,1 mil litros para uso.
E só nesta quinta-feira (1º) foi feita a religação da torre. Desde o final de semana, os moradores estavam buscando água em uma torneira improvisada pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae). Agora, com a torre funcionando, mas com menos água para usar, a comunidade tem se mobilizado para conscientizar os residentes a economizar.
— Temos ressaltado que é importante usar o mínimo do mínimo. Os motores vão forçar com menos água. E se estragar, será um custo ainda maior — avisa Fabiana Pereira Costa, técnica de enfermagem e moradora do local desde 2012.
Nesta sexta-feira (2), duas empresas chamadas pelos moradores vão até o local fazer um orçamento dos reparos necessários na estrutura. Conforme Fabiana, nunca foi feita manutenção no local. O conjunto residencial existe há quase nove anos e tem sete torres do mesmo modelo.
— Estamos esperando algum posicionamento da Caixa, pois é um residencial do Minha Casa Minha Vida. Só que não podemos esperar muito. Por isso, vamos tentar custear o reparo do nosso bolso. Acreditamos que vai custar cerca de R$ 10 mil, mas só depois dos orçamentos vamos ter certeza.
Outras torres não têm reforço
Circulando pelo local, a reportagem constatou que nem todas as torres têm o mesmo reforço na base. Segundo moradores, a torre que ameaçou cair também não tinha o reforço, que foi colocado há cerca de três anos.
— Colocaram essas placas que têm dois furos, mas tinha só uma porca em cada. O laudo disse que teve vandalismo e que tiraram as porcas, mas elas nunca estiveram ali — protesta Fabiana.
Na segunda-feira (28), a reportagem registrou que as placas tinham dois furos, mas só um havia sido utilizado. Na quinta-feira, ao circular pelo residencial, foi possível notar que outras estruturas que possuem as placas na base também não têm todos os furos utilizados. Conforme o departamento jurídico da construtora Dalmás, foi feita solicitação por parte da Caixa Econômica Federal para um orçamento de manutenção de todas as sete torres.
— É um serviço que terá de ser feito, pois as estruturas estão muito enferrujadas — pontua o advogado Sérgio Arnoldo, da NRA Advocacia Empresarial, responsável jurídica da Dalmás.
A Caixa explicou, em nota, que a construtora Dalmás é responsável pela obra e eventuais reparos, quando pertinente. O banco esclareceu que, "por liberalidade, a Dalmás e a empresa responsável pela fabricação e instalação do reservatório, efetuaram os reparos necessários para reestabelecer a estabilidade da estrutura, tendo a última emitido laudo atestando a normalidade e permitindo o retorno das famílias às suas residências". Em relação aos reparos para as outras torres, não houve resposta.
Depois do susto, a volta para casa
O problema começou no sábado (26), quando a estrutura começou a balançar durante a ventania que atingiu a Capital à noite. A Defesa Civil constatou o problema ocasionado em consequência do vento. Cerca de 240 moradores dos dois prédios precisaram deixar seus apartamentos e procurar abrigo na casa de parentes e amigos. A torre metálica fica no pátio da quadra H do conjunto residencial, entre dois edifícios de cinco andares.
— Agora, a gente até ri ao lembrar da situação, mas foi um desespero. Eu levei as minhas coisas e acabou queimando a minha TV na mudança às pressas. Saí ainda no sábado e fui para a casa do meu irmão. Voltei, mas ainda está uma bagunça, estamos arrumando tudo de novo no lugar — conta a agente educacional Lilian dos Santos Guedes, 37 anos.
Com medo de que o local fosse invadido ou até que os apartamentos fossem alvo de furto, alguns moradores passavam o dia no local, saindo só à noite. É o caso da diarista Nair Teresinha Dutra, 63 anos. Ela chegou a ir para a casa de um neto, mas retornou ainda na segunda-feira.
— O importante é que agora colocaram os parafusos e estamos em segurança de novo — diz Nair.