Depois de passar o feriado com a família, Gabriel Leonardo Laufer, 24 anos, chegou disposto para trabalhar na ferragem onde atuava como técnico em informática, na última terça-feira (8). A folga tinha sido bem aproveitada. De comportamento reservado, aproveitou o almoço para revelar aos familiares alguns de seus projetos: pretendia comprar um carro e, mais tarde, talvez construir um imóvel junto à casa dos tios, em Alvorada.
— Ele sempre pensou no futuro. Quando esteve aqui, disse que queria construir casa, comprar um carro para largar um pouco a moto. Mas não deu tempo — lamenta o primo Maximiliano Borba.
Os planos compartilhados se encerraram pouco mais de 24 horas depois da visita, em um cruzamento da Avenida Protásio Alves, em Porto Alegre. Depois de deixar o trabalho na Avenida Lucas de Oliveira rumo à casa onde vivia com a mãe e o padrasto no município da Região Metropolitana, sua moto colidiu com um carro — uma perícia deve esclarecer o que ocorreu no momento do acidente. Franzino, Gabriel teve o corpo lançado para dentro do veículo e morreu no local.
A demora para chegar em casa — Gabriel não costumava alterar seus trajetos e horários — despertou preocupação na mãe, que contatou alguns familiares. A notícia do acidente chegou primeiro no trabalho, provocando choque em amigos e colegas.
— Ele era um guri muito incrível. Era educado, organizado, dedicado em tudo que fazia. Queria uma vida bacana — diz o também técnico em informática Gabriel Alves, 19 anos.
Colega de trabalho de Gabriel, Alves era também um de seus melhores amigos. Os dois se aproximaram por razões profissionais, mas logo se tornaram próximos fora do expediente. A relação era tão próxima que Alves organizou, em maio, um churrasco surpresa em comemoração ao aniversário do amigo.
— Falei pra ele ir lá em casa para gente fazer alguma coisa e fizemos a surpresa. Ele estava feliz. A gente comeu, brincou e bebeu refri, porque ele não bebia álcool. Era muito cabeça, muito inteligente. Está todo mundo abalado — conta Gabriel.
Entre os colegas, Gabriel era visto como uma pessoa tranquila e prestativa, que ajudava sempre que possível. Uma postagem de 2017 em seu perfil no Facebook mostra uma homenagem recebida pela empresa, onde ingressou como jovem aprendiz: recebeu uma cesta com chocolates e petiscos em reconhecimento pelo trabalho destacado.
Sonhava em cursar análise de sistemas e trabalhar como programador. Mas a paixão pelos eletrônicos ia além do trabalho. Nas horas vagas, gostava, principalmente de jogar videogame. Seu jogo preferido, segundo o amigo Gabriel, era PUBG, um jogo coreano de batalha.
Outra paixão de Gabriel era o motociclismo. Além de fotos da moto que usava para se deslocar, uma Yamaha comprada à vista, segundo os familiares, com o dinheiro que juntou nos primeiros anos de trabalho, ele postava vídeos do esporte nas redes sociais.
Em casa, onde era chamado apenas de Léo, era visto como um jovem carinhoso e dedicado, com futuro promissor. Filho único, foi criado pelo pai e pelos tios, junto com quatro primos que o consideram como irmão. Mudou-se há cerca de dois anos para tomar conta da mãe, que sofre com problemas de saúde. Tinha um cachorro e um gato de estimação.
— Ele não gostava de sair de noite, vivia para a família e amava o trabalho. Era uma pessoa diplomática e tinha uma humildade gigantesca. Era nosso guri de ouro. Queremos justiça —diz o primo Maximiliano.
GZH procurou o delegado Leandro Bodoia, responsável pelo caso, mas não conseguiu contato para atualizar a investigação até o fechamento da reportagem.