Uma das localidades mais pobres de Porto Alegre e afetada frequentemente por enchentes, a Ilha do Pavão teme, agora, ficar sem posto de saúde. A Associação dos Funcionários Públicos (Afpergs) comunicou a prefeitura e aos moradores que não pretende manter mais a administração da unidade.
Além de posto de saúde, o local, inaugurado em 2000, é considerado importante para os moradores também por servir almoço e lanche para as crianças, além de oferecer atendimento odontológico. A professora Sandra Ferreira, presidente da associação do bairro, afirma que, sem a estrutura, os pequenos "vão passar fome".
— Se tirarem o posto, a ilha morre. Ele é a estrutura mais forte do poder público. Aqui não tem creche para as crianças, os adultos não têm dinheiro e as crianças vão passar fome — criticou.
Segundo Sandra, o médico titular do posto já nem aparece mais e o substituto está em férias. O atendimento ainda segue com técnicos e enfermeiros, além da refeição, que até o momento não foi suspensa. Os funcionários que ficaram avisaram ao público que o serviço vai até 28 de setembro.
A comunidade, que após a construção da nova ponte do Guaíba e retirada de casas possui 130 famílias, aproximadamente 900 pessoas, ainda tem outra peculiaridade. É afastada do Centro e fica ainda mais ilhada com a violência. Moradores do bairro revelam que não conseguem ir até um posto em uma ilha vizinha, como a dos Marinheiros, porque os traficantes das duas localidades são rivais. Com isso, mesmo quem não tem nada a ver com o conflito teme por sua segurança.
Essa não é a primeira vez que o bairro se alvoroça com a possibilidade de fechamento do postinho. Em outubro do ano passado, um grupo de moradores chegou a bloquear por 30 minutos a BR-290, no km 98, batendo panelas e exibindo cartazes pela manutenção da unidade.
A prefeitura de Porto Alegre informou à GZH que vai manter o serviço e não há possibilidade de fechamento. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) disse que chegou a reunir-se e acordar um valor a ser repassado para compartilhar a gestão do posto com a Afpergs, que, no entanto, não apareceu para assinar o contrato em 18 de agosto. Dias depois, em ofício enviado por e-mail, a Afpergs informou que não tinha mais interesse em manter o posto.
O temor dos moradores, caso a prefeitura assuma, é ficar sem comida para as crianças. A SMS explica que não pode investir recursos da saúde em alimentação. Procurada por GZH, a assessoria de imprensa da Afpergs afirmou que ainda não se manifestaria sobre a situação do local.