Dispostos a afrouxar regras após meses de autocontrole, muitos porto-alegrenses parecem ter esquecido da grave crise sanitária que o mundo enfrenta. Longe parecem estar os dias de quarentena.
O Parque Farroupilha, por exemplo, estava como num domingo de verão. A reportagem contou 40 bancos enfileirados, dos dois lados do Monumento ao Expedicionário, todos ocupados de gente. E não apenas casais, mas também grupos de amigos. Só duas eram as diferenças em relação à época anterior à pandemia: a primeira, a ausência do Brique da Redenção, o que faz com que o movimento de pessoas seja inferior. O outro diferencial é positivo: difícil ver alguém sem máscara. É um equipamento de proteção individual (EPI) que veio para ficar, ao que parece.
A verdade é que os porto-alegrenses parecem ter deixado a culpa de lado. Alaírton Douglas, caixa numa empresa de telefonia, armou uma churrasqueira embaixo dos trilhos do aeromóvel, na Praça Júlio Mesquita (Centro), e começou a assar sem pressa uma maminha, salsichões, coraçãozinho e pães com alho. Ele e a cachorrinha Sofia.
— Ouvindo música e curtindo o visual do Guaíba. Na real, não dá para levar tão a sério a pandemia. Trago máscara e não faço junção com amigos, o resto tento normalizar — descreve.
Próximo dali, o representante comercial Juarez Gomes se exercitava num aparelho de ginástica ao ar livre. De máscara. Tinha acabado de caminhar 13 quilômetros e agora cuidava dos músculos dos braços.
— Sei que tem algum risco pegar nesses aparelhos, mas depois passo álcool nas mãos. Parar de me mexer é que não posso — comenta.
A jornalista Jô Xavier tomava sol na Redenção no meio da tarde deste domingo.
— Costumava ir em bailes e festas, tudo parou. Os shoppings reabriram, mas estão uma tristeza de tão pouca gente. O legal é curtir o parque. De máscara, claro, mas sem muito estresse — pondera.
A reportagem falou também com um grupo de seis amigas reunidas em círculo sobre esteiras, na grama da praça Júlio Mesquita. Há seis meses não se encontravam, disse uma delas. A trégua no frio e as notícias de arrefecimento da pandemia animaram o grupo a se reunir.
Um casal e a filha repousavam em cadeiras, tomando sol. Eles disseram que foi a primeira saída em dois meses. “Loucos de felizes”, descreveu o homem, um funcionário público.
O mesmo cenário se repetiu no Marinha do Brasil, no Parcão e em praças da Zona Norte. Clubes de ginástica, como o Grêmio Náutico União e a Sogipa, também liberaram espaço para atletas treinarem (pistas atléticas e aparelhos), mas cada um isoladamente. Nada de esportes de contato ou grupais. As churrascadas também estão proibidas.
Mesmo que algumas restrições permaneçam, pelo visto, o receio do coronavírus – e a cautela em relação a ele – começam a ganhar ares de passado.