O Rio Grande do Sul registrou chegou, neste sábado (22), à marca de 3.046 mortos por coronavírus, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES). É como se toda a população dos bairros Agronomia ou Praia de Belas, em Porto Alegre, desaparecesse do mapa. O número de casos confirmados é de 108.839.
Ao analisar o número de mortes por milhão de habitantes, o Estado está em posição melhor do que países como Itália, Espanha e Suécia, mas pior do que Alemanha, África do Sul e os vizinhos Argentina e Uruguai.
Na comparação com o resto do Brasil, o Rio Grande do Sul tem a quarta posição em menor taxa de mortalidade, segundo dados do Ministério da Saúde. Por aqui, morreram 25,9 pessoas a cada 100 mil habitantes – a taxa mais baixa é em Minas Gerais (22) e a mais alta, em Roraima (95,1).
Segundo estudo de prevalência da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), 1,22% dos gaúchos (139 mil) foram infectados até agora. Oito a cada 10 óbitos são de pessoas acima de 60 anos.
Indicadores de mortes e de casos parecem apontar para uma tendência de estabilização e de que o pior ficou para trás, mas analistas destacam que as estatísticas das últimas duas semanas sofrem atualização retroativa e que a retomada das atividades arrisca piorar a epidemia no Estado.
Estatísticas oficiais indicam que a última semana de julho teve um recorde de 400 mortes, mas, desde então, há queda no número de vítimas – na semana seguinte, no início de agosto, foram 360 óbitos. A queda semanal continuou desde então, mas apenas na próxima quinzena será possível afirmar se de fato o platô se concretiza.
Já o ápice de casos parece ter ocorrido na metade de julho – entre 12 e 18, foram 12,3 mil casos. Na semana seguinte, o Estado registrou 11,8 mil infecções e, entre fim de julho e início de agosto, 10,5 mil.
— Parece haver um platô desde 15 de julho, um período no qual não há aceleração nem diminuição nas contaminações. Há cerca de 12 mil por semana, mas não sabemos nos últimos 14 dias porque os dados não foram atualizados e os 6,5 mil casos novos de Porto Alegre ainda não entraram nos dados oficiais do Estado — diz o professor de Matemática Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Álvaro Krüger Ramos.
O timing das 3 mil mortes confirma a projeção mais otimista feita em julho pelo Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME) da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, segundo a qual o Rio Grande do Sul atingiria 3,3 mil mortos em 1º de setembro – em situação intermediária seriam 6 mil vítimas e, na pior realidade, 10,6 mil óbitos.
— O pior momento do Rio Grande do Sul é um dos melhores do Brasil. Estamos (no Estado) mais próximos da média de mortes de Portugal do que a brasileira. Julho e início de agosto parecem ter sido o pior. Aparenta-se um platô com uma pequena queda na ocupação de leitos clínicos e de UTIs há três semanas. Quanto a óbitos, parece haver queda, mas eu esperaria mais uma semana para cravar que está caindo — afirma a coordenadora do Comitê de Crise do governo do Estado, Leany Lemos.
Ela reconhece que a decisão de compartilhar a gestão do modelo de distanciamento controlado com prefeitos pode aumentar a circulação de pessoas, mas destaca que a população já sabe quais são os cuidados necessários para evitar infecções e que o desfecho dos próximos dias está nas mãos dos gaúchos.
— Em duas ou três semanas, poderíamos estar em decréscimo, mas houve mudança com a co-gestão (do modelo de distanciamento controlado) junto a prefeitos. Vai piorar? Olha, vai ter mais circulação. Mas se as pessoas mantiverem os cuidados e só saírem de casa se precisarem, não teremos piora — acrescenta.
Analistas afirmam que uma das possíveis explicações para chegarmos ao melhor cenário desenhado pela Universidade de Washington é que, apesar das medidas de flexibilização, o índice de distanciamento social no Rio Grande do Sul não caiu dramaticamente.
Dados da consultoria InLoco mostram que a porcentagem de gaúchos que ficam em casa caiu em junho, mas, desde então, o isolamento se manteve constante, variando entre 36% e 42%. Nesta sexta-feira (21), o Estado estava na 11ª posição de índice de distanciamento dentre 27 Unidades Federativas, com 37,8% de pessoas em casa.
Soma-se a isso a expansão de leitos no Estado, que permitiu que todos os doentes por covid-19 fossem atendidos e que a mortalidade em hospitais públicos seja igual à de hospitais privados, destaca a epidemiologista Jeruza Neyeloff, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Em comparação a antes da pandemia, o Rio Grande do Sul expandiu em 90% novas vagas em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).
— Conseguimos atrasar o espalhamento da doença e aderimos a medidas de distanciamento por bastante tempo. Perdemos o gás e talvez tenhamos flexibilizado demais, mas, ainda assim, com as medidas de distanciamento de agora, a intensa abertura de leitos conseguiu atender à demanda. O distanciamento talvez seja menor do que gostaríamos, mas, em Porto Alegre, é melhor do que em muitas capitais — afirma Jeruza.
Caso as condições atuais sejam mantidas, a Universidade de Washington projeta que, em 1º de outubro, o Rio Grande do Sul teria, em cenário otimista, 6,8 mil mortos. Em situação intermediária, seriam 7,6 mil mortos e, na pior realidade, 12,3 mil vítimas.
UTIs no RS seguem abaixo de 80%, mas capital é pressionada
Dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) mostram que a ocupação das UTIs se manteve abaixo de 80%. Nesta sexta-feira (21), a ocupação era de 77,3%. O indicador, contudo, esconde realidades regionais.
Em Porto Alegre, a ocupação das UTI dá sinais de estabilização em patamares altos há semanas, em torno de 90%. A ocupação por pacientes com coronavírus, no entanto, perde velocidade – na quinta-feira (20), o uso de leitos intensivos específicos para covid-19 foi o menor dos últimos 15 dias.
— Indicadores de demanda de leitos críticos – pacientes em CTI e pedidos de leitos de CTI — seguem apontando para uma situação ainda grave. Nossa CTI (do Hospital de Clínicas) se mantém com lotação acima de 95%, e dependemos de altas e movimentações internas para poder receber pacientes externos diariamente — afirma a epidemiologista Jeruza.
Nesta sexta, o mapa preliminar do governo Eduardo Leite classificou 13 regiões, dentre 21, em bandeira vermelha. A nível nacional, o Brasil confirmou 3,5 milhões de infecções e 113,3 mil mortes.