O abraço carinhoso entre pai e filha chegou com quase duas décadas de atraso, mas nem por isso foi menos intenso. Separados desde os seis meses de vida da bebê, o reencontro do artista uruguaio Juan Carlos Bentancor, 61 anos, e da estudante Stephany Karine Araújo Bentancor, 18, ocorreu na cidade fronteiriça de Aceguá, no país vizinho, neste sábado (15), após a jovem ler sobre o antigo namorado da mãe em GaúchaZH.
Tony Carlos, nome artístico do cantor de boleros, teve sua história contada na Rádio Gaúcha, e a entrevista gravada pelo repórter fotográfico Ronaldo Bernardi foi publicada no site. A partir de uma pesquisa em um site de buscas, a garota soube do paradeiro do pai biológico, a quem reconheceu pela voz e pelas feições. Eles não se viam desde 2013, quando a mãe dela morreu.
- Eu tinha alguns traços dele na minha cabeça. Quando assisti ao vídeo, o reconheci. E soube onde ele estava – conta Stephany.
Foi a colega de aula Luiza Martins Nunes, 17 anos, quem contatou a reportagem e obteve o número de telefone de Tony Carlos. A amiga explica que a busca ocorria há anos, mas como não sabiam do pseudônimo adotado pelo cantor, haviam encontrado apenas perfis desatualizados nas redes sociais.
Durante a pandemia, Tony Carlos trocou a região metropolitana de Porto Alegre pelo país de origem. Já a jovem mora em Bagé, na Região da Campanha, distante 60 quilômetros de Aceguá, no Uruguai. No estacionamento de um posto de combustíveis, a garota pôde, enfim, abraçar o homem com quem não teve a chance de conviver.
– Foi um reencontro bem especial. Quando os corações se uniram foi emocionante. Por mais que eu não tenha a conexão que eu queria ter com ele. Acho que o tempo e a convivência ajudarão nisso. Espero que cada vez mais a gente possa não se separar – relata a garota.
Tony se disse feliz pelo que chamou de "segunda chance".
– O destino às vezes é muito cruel com a gente – definiu o artista.
O músico e a mãe da garota tiveram um romance no início dos anos 2000, em Bagé. "Pelas coisas da vida", como definiu o cantor, eles acabaram se separando, e ela permaneceu no Rio Grande do Sul. O uruguaio seguiu em turnê por diversos Estados brasileiros, apresentando canções de Luís Miguel, Carlos Gardel e outros compositores do ritmo que embala os tangos argentinos.
Em 2013, a mãe de Stephany morreu, vítima de câncer. Pai e filha tiveram um contato rápido. Na época, ele a convidou para voltarem a viver juntos, mas a adolescente disse ter se assustado com o pedido repentino e rejeitou a reaproximação, permanecendo com a família adotiva.
– Meu coração bateu muito alto quando a reencontrei. Estou faceiro de poder integrá-la com outra família que eu também tenho. Tomara que outras pessoas também possam reencontrar seus entes queridos, como eu consegui através da reportagem – agradece o uruguaio.
Stephany brinca que a maior dificuldade a partir de agora será gravar o nome de todos os irmãos: além dos dois com quem tem laços sanguíneos por parte de mãe, ganhou mais seis gerados pelo pai.
Estudante do terceiro ano do ensino médio, a garota sonha em se mudar para a Capital – Tony Carlos também deve voltar a viver em Canoas, onde firmou residência para as apresentações nas ruas de Porto Alegre. Ao concluir os estudos, ela fará vestibular para medicina, uma forma de homenagear a mãe, que era enfermeira.