A Esquina Democrática tem um quê de castelhano quando Tony Carlos, a voz romântica, se apresenta. Com microfone em mãos e o auxílio de uma banda virtual reproduzida pela caixa de som, o tango e o bolero interpretados pelo uruguaio de 60 anos ecoam pelo centro de Porto Alegre.
— Gosto de transmitir o amor. O executivo de gravata para, me ouve e aplaude. Isso me traz tanta alegria. Uma senhora disse uma vez emocionada: "Meu pai cantava esse tipo de música" — relembra, sob olhares na quadra entre a Rua dos Andradas e a Avenida Borges de Medeiros.
Com a confiança de quem cita Gardel, Iglesias e Luís Miguel, afirma que o sucesso de suas canções leva as pessoas das lágrimas às atitudes mais inesperadas, como tirá-lo para dançar em meio a uma das ruas mais movimentadas da cidade. O fato foi comprovado pelo engraxate Silvio Machado da Silva, 54 anos, que assiste às performances de camarote.
— Uma senhora estava chorando, ouvindo ele cantar. Então, o pegou pelo braço e dançou junto. Foi emocionante e, ao mesmo tempo, engraçado — relembra, do alto do seu camarote na Borges.
Sentado em uma banqueta atrás de uma mesa coberta por uma manta da Seleção Uruguaia, de pernas cruzadas, paletó e gravata, "porque para cantar tango tem que se vestir a rigor", diz buscar mais do que vender seus oito álbuns. Almeja o The Voice Brasil:
— É o meu sonho. Lá, ia cantar Frank Sinatra, New York, New York. Aí eu me incorporo e pego eles (os avaliadores do programa) na emoção.
O músico vive na Capital desde 1979, quando se apresentava na antiga boate Cascalho, na Rua Voluntários da Pátria. Em pouco tempo, decidiu ficar, pois se apaixonou pela cultura do Rio Grande do Sul.
— Conheci o Gaúcho da Fronteira e, como diz a sua milonga, "onde mora um gaúcho, existe hospitalidade". Aqui é o melhor povo.
Tony se casou no Estado e teve quatro filhos. Vive hoje com uma nova companheira, em Canoas, na Região Metropolitana.
Diz que cantou em Barcelona, Madrid, Roma e Paris, mas que no RS encontrou seu público:
— É a terceira idade. Faço muito baile, casamento, aniversário... Os mais velhos me dizem que aquilo de antigamente acabou. Aquele romantismo dos casais, o carinho, o andar de mãos dadas com o pai e com a mãe.
Interrompendo a entrevista, a aposentada Maria Lúcia Costa, 78 anos, referenda a tese.
— Ouvi o tango dele, é maravilhoso. Canta com o coração. Vou levar um CD para o meu cunhado, que também adora — diz a moradora da Zona Norte ao desembolsar R$ 30.