Poucas horas após a publicação do decreto que liberou a reabertura das academias e dos centros de treinamento em Porto Alegre, alguns estabelecimentos já retomaram as aulas presenciais. Às 7h desta terça-feira (11), o industrial Thomas Herrmann, 70 anos, subia em uma das esteiras da JB Nunes Academia, no bairro Bela Vista, na zona norte da Capital.
— A vontade de voltar era imensa. Até do professor eu senti falta — brincou, ao se referir à amizade de 25 anos com o proprietário do espaço, João Batista Rocca Nunes.
As academias foram proibidas de atender o público em 7 de julho. Durante o período, Rocca Nunes investiu nos treinamentos online: montou três estúdios de captação de vídeo para os instrutores, com os chamados ring lights, estrutura circular com lâmpadas nas extremidades e suporte central para o smartphone. O investimento foi de cerca de R$ 4 mil. Para o empresário, os treinamentos a distância continuarão, mesmo que em um pequeno percentual.
— Nós levamos para a casa dos alunos halteres, pesos, colchonetes, bastões e bolas. É um mercado novo que se abre, e pode chegar a um quarto do nosso público total — estima.
Às 8h, a academia atendia duas pessoas de forma virtual e uma presencial, confirmando a tese do empreendedor, da aceitação do público pelo sistema online.
O educador físico Adriano Martins Dorneles, 42 anos, repassava as instruções de uma aula individual de alongamento. A aluna, médica oftalmologista, conseguiu adaptar os horários do trabalho com o treinamento em casa. Com o filho em idade escolar longe do colégio, o modelo a distância supriu sua necessidade. Ao fim do treino, o professor questionou se ela gostaria de voltar a frequentar o espaço. A resposta foi negativa.
— Estamos oferecendo a todos a opção de manter assim ou vir pra academia. Essa médica inclusive comprou equipamentos pra treinar em casa — reforça.
A Academia Três Figueiras, no bairro de mesmo nome, também voltou às atividades com o público. São cerca de 500 alunos, que agora precisam acessar o espaço usando máscara de proteção e carregar uma flanela com álcool em gel fornecida pela administração.
Para não perder receita, os sócios ofereceram a flexibilização nos contratos: prorrogação da validade dos planos e cedência dos meses restantes a amigos ou parentes, que podem compartilhar a academia.
— Para nós cada dia é importante, por isso corremos para reabrir logo. Não precisamos demitir ninguém, mas estamos correndo para pagar as contas — afirma o sócio, Raimundo Borin.
Com parte dos equipamentos interditados por fitas zebradas, o centro de treinamento reduziu a capacidade para se adaptar à restrição. Segundo o decreto publicado pela prefeitura, as academias têm que disponibilizar um espaço de 16 metros quadrados por aluno.
No bairro Santana, a Academia Alternativa precisou de mais tempo para higienizar o prédio e preparar as máquinas para atender a limitação imposta pelo Executivo. O proprietário, Ricardo Paranhos, afirma que os alunos estão sendo procurados para agendar as atividades, evitando aglomerações.
Para a dona da Espaço Ativo, no bairro Rio Branco, o temor de ter de fechar novamente impede a retomada das aulas.
— Embora contemplemos os 16 metros, o receio é chamar todo mundo e depois ter de fechar de novo — analisa a empresária Rosa Pacheco, que segue com o local fechado.
Uma pesquisa realizada pelo Comitê de Crise da Educação Física, movimento que reúne seis entidades do setor, apontou que 70% dos proprietários de centros de treinamento têm intenção de reabrir os locais já nesta terça-feira, na Capital.
À frente do comitê, e vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref), Alessandro Gamboa afirma que as academias estão com "protocolos rígidos" e que o retorno é fundamental para a saúde financeira dos empreendimentos, que ele classifica como "grave". O dirigente reforça a temeridade demonstrada por alguns empresários, de haver recuo em um próximo decreto.
— O retorno é de suma importância. O que complica para as academias é essa avaliação semanal da prefeitura, pois há necessidade de chamar colaboradores com contrato suspenso. Aí imagina tirar ele da suspensão, depois a academia fecha e ter de suspender de novo, ou até demitir — diz.