A ocupação nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) de Porto Alegre por doentes com coronavírus subiu nesta segunda-feira (10) e atingiu 335 pacientes, a marca mais alta, em números consolidados ao fim do dia, desde o início da pandemia. No geral, 90,6% dos leitos intensivos da cidade estão ocupados – destes, mais da metade é usada por pacientes confirmados ou suspeitos para o novo coronavírus.
O Hospital da Restinga, que chegou a ter 114% de lotação no domingo (10), viu a taxa de ocupação subir para 121%. Na instituição, assim como o ritmo municipal, mais da metade dos leitos intensivos são para suspeitos ou confirmados para covid-19. Os hospitais Cristo Redentor e Moinhos de Vento também chegaram ao limite da capacidade – o último, no entanto, não atualizou as informações desde o domingo (10).
O novo recorde de internações por covid-19 e a hiperlotação do Hospital Restinga ocorrem em meio à retomada das atividades na construção civil nesta segunda-feira e à negociação para que Porto Alegre libere o comércio.
A Capital já enfrentou lotação hospitalar em anos passados, mas médicos destacam que, em 2020, a grande ocupação é nas UTIs (último nível de atendimento, após as enfermarias) mesmo após a cidade aumentar em mais de 50% o número de vagas para pacientes em estado muito grave. Além disso, infectados por coronavírus ficam internados por mais tempo, o que atrasada a liberação de vagas.
Os dados ainda mostram que o crescimento nas internações nos últimos sete dias (5%) na capital gaúcha foi maior do que na semana anterior (4,4%), como mostra o gráfico a seguir. Na prática, reverte-se, pontualmente, a tendência das últimas três semanas, nas quais a média de ocupação nos sete dias anteriores à análise era sempre menor do que 14 dias antes.
Risco de leitos a 90%
Médicos vêm alertando sobre os riscos de uma estabilização na demanda por UTIs em patamares tão altos, por volta dos 90%, e sobre a possibilidade de o fenômeno ser artificial – com poucas vagas livres, a margem de crescimento na ocupação também fica menor.
A média de mortes por coronavírus em Porto Alegre cresceu 16% entre quarta-feira passada (5) e semana anterior, na comparação com os 14 dias anteriores, passando de 9,7 mortes diárias para 11,3. GaúchaZH não calculou os dias mais recentes porque há represamento (atraso) na confirmação de óbitos, por conta da demora no resultado de testes.
— O patamar no qual estamos chegando é perigoso — avalia Claudio Stadnik, médico infectologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e professor de Infectologia na Ulbra.
Ele cita que todas as vagas abertas nos últimos dias na Santa Casa já estão ocupadas e que, quando um hospital chega a 95% de lotação das UTIs, é preciso recusar pacientes, uma vez que o leito fica um tempo parado para manutenção (no painel da prefeitura, são os "leitos bloqueados").
— Pacientes de covid ficam muito tempo internados, então, vagar um leito leva tempo. A previsão é chegar ao teto em 27 de agosto, então teremos que escolher entre quem recebe leito e quem não receberá. Claro que a gente abre vagas de acordo com a necessidade, mas, ao menos na Santa Casa, estamos chegando muito próximo da impossibilidade de abrir novos. A situação é: ou a gente abre mais leitos na cidade, ou a curva de novos casos precisa diminuir. A velocidade do aumento no número de casos não é a mesma do mês passado, quando havia crescimento exponencial, mas qualquer aumento pode ser um desastre agora — afirma.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o secretário-adjunto da Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, enfatiza que a ocupação dos leitos de UTI cresce, mas em velocidade menor do que nas últimas semanas, e afirma que há indicadores apontando para desaceleração da pandemia na cidade.
— Na questão dos leitos, a oferta gera demanda, então leitos vagos de UTI acabam sempre gerando internações. Interna gente daqui (Porto Alegre), senão de outra região ou de repente quem nem tenha covid. Mas se a gente olha a desaceleração importante dos leitos de UTI nas últimas semanas, a redução no número de casos, a redução na procura nos postos de saúde, esses indicadores nos mostram que tivemos uma desaceleração da epidemia em Porto Alegre nas últimas duas ou três semanas — afirma Katz.
Colaborou Eduardo Matos