Alento para os moradores do bairro Arquipélago, em Porto Alegre, o recuo das águas do Delta do Jacuí cessou os alagamentos na região. Às 6h15min desta sexta-feira (17), o nível do Guaíba no Cais Mauá bateu em 1m88cm – no sábado (11), atingiu 2m61cm. Desde que o lago entrou em cota de inundação, a medição ainda não havia baixado de dois metros. O recuo permitiu o retorno de 17 pessoas as suas residências na Ilha Grande dos Marinheiros.
As últimas famílias desabrigadas, de acordo com a prefeitura da Capital, haviam sido acolhidas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Alvarenga Peixoto. De lá, saíram com roupas de cama novas, colchões, máscaras e álcool gel para proteção contra o coronavírus.
Durante o período de alagamento, muitos dos atingidos pela enchente preferiram permanecer em casa para zelar os pertences.
– A gente não deixa as coisas sozinhas nunca. Fica embaixo d’água, mas não sai. Móveis de madeira foram jogados fora, mas o resto mantive - conta o mestre de obras Marco André Silva Azevedo, 39 anos, morador da Ilha Grande dos Marinheiros.
Nas ruas, há ainda muito barro e alguns acúmulos da chuva que atingiu Porto Alegre nesta quinta-feira (16). Grandes buracos se abriram no asfalto, exigindo perícia dos motoristas ao trafegar no acesso da BR-290.
Marinês Neves da Silva, 55 anos, teme a volta da chuva. Na manhã desta sexta-feira, uma garoa atingiu a ilha. Ela relembra a maneira como levava o marido para o trabalho, na semana que passou: de barco até um trecho, de onde ele seguia pedalando, com água cobrindo as canelas.
– Ele tem problema de coração, mas somos pobres, a gente precisa trabalhar - complementa.
Principal via da Ilha Grande dos Marinheiros, a Rua Nossa Senhora Aparecida hoje já pode ser atravessada por veículos de passeio. No auge da enchente, o caminho era percorrido exclusivamente por embarcações. O trecho onde a nova ponte do Guaíba cruza a rua, interditado na semana passada, está agora livre novamente. Pequenas lanchas foram vistas atravessando o Delta do Jacuí por baixo da construção.
Na Ilha da Pintada, o cenário é semelhante: lixo nas calçadas, cercas de madeira destruídas, mas sem alagamentos significativos.
O dia será de limpeza para a pescadora Vera Lúcia Silva, 58 anos.
– A gente está acostumado. Moro aqui desde que nasci. Agora é limpar o barro e tirar o lixo - conta.
As equipes da Defesa Civil continuam monitorando pontos críticos na região.
Vizinhas à BR-290, as palafitas da Ilha das Flores também deixaram de ser acessadas apenas por barcos, restando o lodo para ser retirado. Na Ilha do Pavão, muitos telhados esburacados ganharam lonas, rastros que devem persistir devido ao baixo poder aquisitivo dos moradores.
Em todo o RS, há ainda 992 pessoas fora de casa devido às cheias.