Posicionados com suas respectivas bicicletas na Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre, dezenas de entregadores de aplicativos se juntaram à paralisação nacional da categoria marcada para esta quarta-feira (1°). Responsáveis pelo serviço de entrega de alimentos, os trabalhadores reivindicam maior suporte por parte das empresas, licença remunerada em caso de acidentes, direito à alimentação durante as jornadas de trabalho, acesso a equipamentos de proteção individual (EPIs), melhores taxas por entrega feita e o fim do sistema de pontos e dos bloqueios.
Essa atividade é entendida como um serviço essencial durante a pandemia de coronavírus. Durante esse período de distanciamento social, ela teve sua demanda aumentada, já que os restaurantes e lanchonetes só podem funcionar no sistema pegue e leve e no de telentrega. Os entregadores afirmam que, apesar da alta procura, a baixa remuneração e o medo de contrair a doença preocupam.
Pai de uma menina de dois anos, Wesley dos Santos, 26 anos, morador do Partenon, trabalha como entregador do Uber e do Rappi, de bicicleta, há dois meses. Ele começou sua trajetória neste ramo em razão da crise econômica que fez as contas se acumularem.
— A gente enfrenta o frio, a chuva carregando o lanche dos outros nas costas, mas não podemos parar, porque precisamos de dinheiro para sobreviver. Enfrentamos tudo isso para ganhar muito pouco. Em uma corrida de quase quatro quilômetros, por exemplo, a gente recebe R$ 3,50 — desabafa.
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gabriel Ethur, 25 anos, conta que, ao ser demitido da escola onde trabalhava, em janeiro deste ano, começou a fazer entregas de bike. O jovem conta que chega a pedalar 30 quilômetros por dia e que, com os valores conquistados durante a jornada de trabalho, nem sempre consegue cobrir os custos de alimentação fora de casa.
— Queremos aumento da taxa por quilômetro rodado, aumento do valor mínimo de entrega, suporte das empresas em relação a nossa saúde e bem-estar e fim do sistema de bloqueios. Muitas vezes, temos nossas contas bloqueadas sem uma justificativa. Uma vez bloqueados, devido a reclamação ou avaliação de um cliente, somos impedidos de trabalhar. Nunca somos escutados, na plataforma a gente lida com robôs, mas aqui do outro lado são seres humanos. Pessoas com problemas reais tentando ganhar dinheiro para se sustentar.
Luana Dröse, 18 anos, teve seu contrato de emprego interrompido no último emprego e passou a fazer entrega há dois meses. Além das reclamações já comuns à categoria, ela reclama que o Rappi não pensa em entregadores recém chegados, já que os mais antigos recebem um maior número de corridas, nem nas demandas específicas de mulheres:
— A fivela de fechamento da mochila, por exemplo, é bem na região dos seios. Nós, mulheres, não conseguimos fazer isso, porque machuca. Por outro lado, ao não fechar, ficamos com muita dor na coluna, porque é a fivela que dá segurança para mantermos a postura correta. Além disso, apareceu para mim, diversas vezes no Rappi, a seguinte mensagem “necessidade de homens para o pedido”. Esse é mais um impeditivo para que a gente realize o trabalho.
A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), entidade a qual Ifood e Uber Eats são filiados, afirmou, por meio de nota, que as companhias que atuam no setor de delivery implementaram, desde o início da pandemia, ações de apoio aos entregadores parceiros, como “a distribuição gratuita ou reembolso pela compra de materiais de higiene e limpeza, como máscara, álcool em gel e desinfetante, e a criação de fundos para o pagamento de auxílio financeiro para parceiros diagnosticados com covid-19 ou em grupos de risco. Além disso, os entregadores parceiros cadastrados nas plataformas estão cobertos por seguro contra acidentes pessoais durante as entregas".
Já em relação ao sistema de ponto, a entidade diz que “as empresas associadas à Amobitec não trabalham com esquema de pontuação para a distribuição de pedidos e deixam claro que a participação em atos como a manifestação desta quarta-feira (1/7) não acarretará em punições ou bloqueios de qualquer natureza”.
A reportagem contatou o Rappi, mas não obteve retorno.