A placa na entrada mostra o esforço da Confeitaria Maomé para chegar até o cliente. "Em época de covid-19 atendemos: takeaway, delivery, drive-thru, everything in português", é o que está escrito em giz, brincando com a quantidade de estrangeirismos para a entrega de comida.
Sem poder receber a freguesia, os quitutes da confeitaria da Avenida José Bonifácio, em Porto Alegre, estão disponíveis nos três principais aplicativos de comida (iFood, UberEats e Rappi). A empresa tem ainda vínculo com uma cooperativa de entregadores, para atender os clientes que pedem tele-entrega direto com a confeitaria, e o drive-thru citado significa que os atendentes levam os pedidos até o carro com máquina de cartão pra quem prefere.
A empresa familiar vai completar 42 anos em julho. Sócio e gerente, Antonio Augusto Cauduro Harb, 57 anos, lembra que enfrentou inflações estratosféricas na década de 1990, além da política de congelamento de preços. Se aprendeu uma coisa com essas crises — que tem usado para resistir ao coronavírus — é seguir o ditado sobre "dançar conforme música".
— E cada vez que vem um ritmo novo, a gente dá uns passos. A gente tem que tentar.
Mas não tem sido fácil. A Maomé nunca teve uma queda de receitas semelhante — Antonio estima que a empresa esteja faturando de 15% a 20% do habitual. Muitas pessoas em isolamento, com mais tempo e menos dinheiro, têm feito seus lanches e doces sozinhas em casa. E a experiência de ir até a confeitaria, sentar e pedir um café atraía muitos dos consumidores.
— Antes da pandemia, nas nossas mesas tinha gente lanchando, se encontrando, namorando, fazendo reuniões, gente brigando. Essa turma, eu não sei onde está brigando e namorando agora. Aqui é que não é.
Nas redes sociais, as fotos dos rocamboles, salgados e tortas tentam provocar o cliente e apelar à memória afetiva. Os posts eram feitos por agência contratada antes da pandemia, agora, o próprio Antonio é quem faz — é uma das despesas que ele precisou cortar.
Ele comanda a produção, os insumos, o marketing e também faz o atendimento por takeaway. A maior parte dos funcionários está em férias ou com os contratos suspensos.
— Não desligamos, imaginando que a pandemia vai terminar. Mas, se demorar muito, talvez a gente tenha que cortar também.
O empresário tenta manter a esperança. Ressalta que o sobrenome da família, Harb, significa "guerra" em árabe.
— Somos guerreiros, no sentido de tentar fazer frente a dificuldades.