Com 130 anos, o Gambrinus é o restaurante mais antigo de Porto Alegre, mas não o mais antiquado. Pode até ser um case de como usar as ferramentas da tecnologia para combater as dificuldades impostas pelo coronavírus.
O queridinho do Mercado Público renova volta e meia as promoções no iFood (nesta quarta-feira, tinha "leve seis, pague cinco" dos seus bolinhos de bacalhau tradicionalíssimos) e tem feito alguns combos, como de tilápia e legumes harmonizados com vinho branco.
Nas redes sociais, o Gambrinus tem até hashtag (#Gambrinus130anos) e faz #TBT (postagem de alguma memória afetiva do passado) com famosos que estiveram no restaurante. Tem fotos de Fafá de Belém e Lulu Santos abraçados no garçom mais popular da casa, o Zezinho, que está em casa durante a quarentena porque pertence a grupo de risco.
A marca também faz posts com curiosidades presentes na decoração da casa. Conta, por exemplo, a história do quadro negro de moldura robusta exposto no topo de uma das janelas do Gambrinus, que anuncia o cardápio do dia de vários anos atrás. A letra das inscrições ainda é do garçom Jorge de Oliveira, popular Vovô, que teve meio século de Gambrinus e faleceu em 2016. Nada disso é novidade, mas tem sido ainda mais importante em tempos de distanciamento social.
— A gente tem essas atitudes para a marca continuar ativa na cabeça das pessoas. Com a casa fechada, a gente fica fisicamente distante, mas a internet aproxima — afirma o administrador e sócio João Alberto Cruz de Melo, 41 anos.
Faz 31 anos que João trabalha no Gambrinus, desde que era adolescente. Lembra, por exemplo, das dificuldades relacionadas à hiperinflação, que tornavam impossível saber qual seria o preço dos produtos no dia seguinte. Mas o momento mais complicado foi o incêndio do Mercado Público, em 2013. Pararam abruptamente as operações e ficaram 38 dias fechados.
— Ali eu aprendi muita coisa. Já passei por um período muito complicado, o que me dá mais tranquilidade para lidar com o momento atual.
Lições tanto do ponto de vista de controle emocional quanto de medidas a tomar. Ele aprendeu a sentar e analisar todas as contas, para decidir o que é e o que não é essencial. Também sabe que é importante chamar os fornecedores para renegociar termos e conversar francamente com a equipe de funcionários, que está sendo mantida durante a pandemia. Repete o que lhes disse:
— A gente vai passar trabalho, mas vamos estar juntos. E voltar ainda melhores do que éramos.