Parte de uma série de medidas de flexibilização do distanciamento social adotadas nas últimas semanas, a liberação do funcionamento de bares, restaurantes e academias em Porto Alegre dividiu empreendedores dessas áreas nos últimos dias. Enquanto muitos, ansiosos pela retomada, reabriram no dia seguinte ao anúncio, um número significativo de estabelecimentos resolveu esperar um pouco mais para decidir sobre a retomada dos atendimentos presenciais.
Segundo a presidente da Abrasel-RS, Maria Fernanda Tartoni, a liberação provocou diferentes reações em proprietários de restaurantes e bares da Capital — ela estima que cerca de 50% tenha adiado a reabertura. Entre os que optaram por se manterem fechados, as justificativas são diversas. Enquanto alguns acham temerário retomar as atividades por tempo indeterminado — caso a pandemia se agrave, é possível que a medida seja revista —, outros temem que os clientes não apareçam.
— Não temos números oficiais, mas percebemos que uma boa parcela não quer voltar. A gente tem de fazer uma movimentação grande para voltar a operar. Recontratar funcionários, se adequar às normas, adaptar o cardápio. Tem de haver um faturamento mínimo para ter equilíbrio — conta.
Proprietário do restaurante Pueblo, no bairro Petrópolis, Eduardo Mallmann foi dos que optaram por seguir apenas com o serviço de delivery, pelo menos, até o fim do mês. Ele argumenta que o retorno exigiria, além das adaptações na estrutura de atendimento do local — que costumava trabalhar com bufê ao meio-dia —, a recontratação de funcionários que tiveram contratos suspensos. Com aumento de gastos e sem garantia de movimento, avalia que pode amargar prejuízos:
— Estamos aguardando um pouco mais, preparando o restaurante para se adequar às normativas e calculando os riscos. É uma decisão difícil de tomar. Se não tiver clientes, vamos ter que demitir, e não queremos isso.
A preocupação em tomar uma decisão que esteja em harmonia com seu público também influencia comerciantes que preferiram seguir fechados. Proprietário do Armazém Porto Alegre, bar que reúne centenas na escadaria do Viaduto Otávio Rocha, no Centro, Renato Pereira Júnior acredita que retomar as atividades agora entraria em conflito com o que esperam os frequentadores do bar.
Além da preocupação com a saúde da família — que comanda o negócio —, de seus clientes e funcionários, ganhou um motivo a mais para redobrar a cautela. Depois de sofrer um infarto, no fim de março, entrou para o grupo de risco da covid-19.
— Quero ter bastante cliente quando isso tudo amenizar, e não vai ser reabrindo agora que vou conseguir isso. Acho que nosso público não gostaria, tanto é que até agora ninguém nos cobrou a reabertura — observa Renato, que não descarta a retomada no mês que vem.
Vizinho de escadaria, o Justo Bar seguiu pelo mesmo caminho. Em sua página no Facebook, avisou aos clientes que deve seguir sem atividades presenciais. Iniciativas parecidas tiveram o café Sala Precisa, na Cidade Baixa, o Charlie Brownie, no bairro Auxiliadora, e o bar Limonata, no Bom Fim. Depois de consultar os clientes pelo Instagram — 83% disseram não se sentirem seguros para voltar a frequentar o local agora —, a Mark Hamburgueria, na Cidade Baixa, anunciou que, por enquanto, continuará apenas com o delivery.
Academias planejam adaptações antes do retorno
Entre as academias, o retorno imediato também não foi consenso. Enquanto parte delas retomou as atividades presenciais observando as restrições imposta pelo decreto — como a limitação de usuários e a distância entre eles — , outras ainda avaliam a melhor forma de voltar a operar.
Proprietário da Academia Sal da Terra, na Avenida José de Alencar, Augusto Geremia projeta a reabertura do local para as próximas semanas. Segundo ele, a principal preocupação é garantir a segurança dos usuários no retorno — para isso, além de adaptações na estrutura, pretendem treinar os funcionários para lidarem com eventuais problemas.
— Acho que quem está abrindo sem estar preparado pode tomar um revés. As pessoas precisam se sentir seguras. E, pelo que percebemos, nossos alunos não estão desesperados para voltar. Os grupos (virtuais) tiveram boa aceitação — diz o empresário, que afixou um recado na porta do local avisando os clientes sobre o posicionamento dos proprietários.
Em uma ronda da reportagem pelos bairros Menino Deus e Auxiliadora, na manhã desta quinta-feira (21), pelo menos outras quatro academias seguiam fechadas. A Bio Fitness, na Avenida Getúlio Vargas, usou as redes sociais para comunicar aos clientes que teriam de esperar um pouco mais pelo retorno: “queremos deixar o ambiente mais seguro possível para todos, por isso estamos fazendo as últimas adaptações. Comunicaremos aqui a data de reabertura “ diz um recado no perfil do Instagram.
Para poderem operar em Porto Alegre, as academias terão de resguardar um espaço de 16 metros quadrados para cada aluno, e poderão atender apenas 50% da capacidade estabelecida no alvará ou no Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). Além disso, devem seguir as regras gerais do comércio e dos serviços durante a pandemia, como oferecer álcool gel aos frequentadores e disponibilizar máscaras de proteção aos funcionários para deslocamento.