Depois das aglomerações registradas no último final de semana, moradores do Centro Histórico, em Porto Alegre, estão fazendo uma campanha na internet para fechar a orla do Guaíba. Além do uso da hashtag #FechaOrla, um abaixo-assinado somava mais de 1,1 mil apoiadores apenas na tarde desta segunda-feira (18).
“Infelizmente, neste domingo, foi registrado um grande movimento de pessoas sem máscara, em grupos, colocando a sua vida e a dos outros em risco. Uma profunda falta de respeito pela crise humanitária que vivemos. As autoridades devem responder. Pode isso?”, provoca o texto junto à petição online.
Autor da campanha, o diretor audiovisual Rafa Ferretti, 49 anos, avalia que a área deveria ser fechada pelo menos aos domingos. E não apenas na Orla Moacyr Scliar, mas também nos outros parques urbanos da cidade.
— Como as medidas de distanciamento social estão dando certo, a impressão que dá é que não precisam mais acontecer. Mas é exatamente porque está dando certo que têm que ser mantidas. A melhor forma é evitar essas aglomerações que acabam passando uma falsa ideia de tranquilidade. A pessoa olha e pensa: “tem tanta gente indo, porque também não vamos?".
Trabalhando também como produtor de eventos há seis anos, Rafa se diz um defensor da ocupação de espaços públicos. Mas não em período de pandemia, uma vez que o distanciamento social é considerado por especialistas como a principal arma contra o coronavírus.
— O ideal seria não fechar, o ideal seria as pessoas terem consciência — lamenta. — A gente quer questionar o Poder Público, mas também dar uma força para ele, mostrando que tem gente que quer seguir com o distanciamento.
O debate começou no domingo (17) no grupo Vizinhos do Centro Histórico, que tem mais de 43 mil membros no Facebook. Rafa e outros moradores do bairro expuseram sua indignação com o movimento da orla no final de semana, compartilhando fotos e reportagens.
Muitos integrantes reclamam de falta de empatia. “Fui no calendário contar, desde o último dia que estive aí, um lugar vital para mim, se passaram 63 dias! É um desrespeito tão grande por tantas razões diferentes que você nem sabe mais o que sentir. E o gestor público restringe a circulação (mas nem tanto!). No 'novo normal' que vem aí teremos sido os trouxas??”, questionou a advogada Carolina Wojahn, 37 anos.
O secretário extraordinário de Enfrentamento ao Coronavírus de Porto Alegre, Bruno Miragem, não vê o fechamento de ambientes a céu aberto como uma alternativa.
— Problemas complexos não aceitam soluções simples. Se interditar ali, as pessoas não vão deixar de sair, e vão se aglomerar em outro lugar — avalia.
Ele afirma estar ciente das aglomerações registradas no final de semana e afirma que os agentes do município vão intensificar a fiscalização, com orientações de distanciamento e do uso de máscara, que é obrigatório por decreto estadual.