Local idealizado pela prefeitura para receber uma roda gigante que pode virar ponto turístico de Porto Alegre, o trecho 2 da orla do Guaíba, entre a Rótula das Cuias e o Anfiteatro Pôr do Sol, padece com um problema que torna difícil imaginar um passeio no brinquedo com vista para o manancial. A contribuição de esgoto que chega indevidamente ali provoca mau cheiro e o surgimento de manchas quando o nível da água está mais baixo, lembrando os degradados arroios da cidade.
Para tentar amenizar o problema antes da concessão da área, cujas propostas serão abertas no dia 20, a prefeitura deve iniciar, na semana que vem, três obras voltadas ao direcionamento correto dos resíduos que hoje chegam ao local. Fará extensões nas redes pluviais das ruas Dezessete de Junho, no bairro Menino Deus, e Santa Terezinha, no bairro Santana, e deve instalar uma caixa subterrânea à esquina da Rua da República com a João Alfredo, na Cidade Baixa.
— Essa região tem uma série de prédios antigos onde, às vezes, o sistema de drenagem e o cloacal são despejados de forma mista no Canal da Rua da República, que chega à Casa de Bombas 16 e direciona essa carga para o Guaíba — explica o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Darcy Nunes dos Santos.
Desde junho passado, o Dmae trabalha na identificação dos pontos em que há problemas junto aos maiores consumidores de água da região que despeja no canal — parte do Centro Histórico e dos bairros Cidade Baixa, Farroupilha, Menino Deus, Praia de Belas e Santana. Além do descarte misto, já identificado em dois prédios públicos, foram detectados pontos onde a rede estava incompleta. É o caso das ruas Dezessete de Junho e da Santa Terezinha. Na Cidade Baixa, será instalada uma caixa de concreto para receber os dejetos de origem cloacal e direcioná-los para o conduto sanitário.
As três obras foram priorizadas por serem consideradas mais simples de serem executadas — a previsão é de que sejam concluídas em até seis meses — e por terem baixo custo. Serão investidos R$ 1,5 milhão de recursos do próprio órgão nos trabalhos. Quando concluídos, impedirão a chegada ao Guaíba de uma carga de esgoto mensal equivalente aos resíduos 1,5 mil famílias.
A questão dos prédios públicos é mais delicada. Segundo o gestor, é preciso, primeiro, descobrir se as redes mistas constavam ou não no projeto hidrossanitário das construções. Caso estejam, é possível fazer as adequações técnicas de forma mais rápida. Do contrário, implicações burocráticas devem adiar as intervenções.
— Teremos que notificar primeiro que aquela instituição tem de se regularizar e dar um prazo — disse Santos.
O objetivo da prefeitura é mapear os principais locais e identificar a viabilidade da realização de obras até o fim do ano.
Trecho prevê trapiche
Segundo o Dmae, as primeiras medidas já devem apresentar reflexos no trecho, com a diminuição do odor — as manchas ainda poderão aparecer quando o nível do Guaíba estiver baixo. Para o secretário de Parcerias Estratégicas, Thiago Ribeiro, a melhora da qualidade da água também servirá para estimular atividades náuticas.
— Não colocamos essas obras como exigência (para a concessão) porque fugiria do escopo. Conservação de parques é muito diferente disso. Já a construção do trapiche está prevista no edital. E quanto melhor a qualidade da água, maior é a chance que a concessionária patrocine alguma atividade náutica — disse.
Quem assumir o trecho entre a Rótula das Cuias e o Anfiteatro Pôr do Sol terá de instalar no local uma estrutura de 70 metros, com uma rampa de acesso de sete metros de largura. O trapiche, de acesso público, servirá para pequenas embarcações.
Segundo a prefeitura, grupos de fora do Estado fizeram visitas técnicas à área nos últimos meses, mas nenhum formalizou proposta até agora. O contrato terá duração de 35 anos, e o investimento previsto é de R$ 512 milhões ao longo de toda a concessão — o aporte inicial é de R$ 70 milhões. Além de construir a infraestrutura do trecho, a empresa ficará encarregada da manutenção preventiva e corretiva das edificações, da limpeza e segurança do local e do cuidado com a flora e fauna do parque.
As obras
Extensão de rede da Rua Dezessete de Junho
600 metros, da esquina com a Rua Baroneza do Gravataí até as proximidades do Foro Central
Extensão da rede da Rua Santa Terezinha
200 metros, da Rua Jacinto Gomes até a Avenida Ipiranga
Caixa de coleta de esgoto na Rua da República
Construção de caixa de concreto armado subterrânea para receber contribuição de esgoto à esquina com a Rua João Alfredo