Quem observa o estilo peculiar de Jean Crapanzani, que elegantemente alia cartola, terno preto, gravata borboleta e um baralho nas mãos, logo deduz a atividade do homem de 34 anos: mágico. A profissão escondida por trás do personagem, porém, poucos conseguem adivinhar. Duas vezes por semana, o psicólogo se despede da fantasia para atender pacientes em uma clínica no bairro Menino Deus.
– No consultório eu atendo "à paisana", mas as áreas têm muito em comum. Enquanto psicólogo, assim como na mágica, preciso guardar segredos. Sou apaixonado pelas duas, pois estudam a mente humana, a coisa mais misteriosa que existe – afirma.
A ideia de ir para a faculdade de Psicologia, em 2009, surgiu para aprimorar os espetáculos. Jean, que atua como mágico desde os 18 anos, queria conhecer melhor o comportamento humano. Deu certo. Hoje, ele faz uma leitura mais precisa do público: a partir das reações de cada espectador, decide quem será chamado para participar de um número. Se a pessoa estiver de braços cruzados ou olhando para baixo, por exemplo, dificilmente será convocada pelo profissional.
– Vou brincando com a plateia e vejo como a pessoa reage. Se for fazer uma mágica bem-humorada, busco alguém extrovertido. Caso a pessoa precise apenas assinar uma carta, posso escolher alguém mais tímido – explica ele, que já foi campeão gaúcho e brasileiro de mágica, mas não pretende abandonar a psicologia: "É um hobby".
O dia a dia é corrido: quando não está no consultório, Jean costuma dar aulas de mágica e dança de salão – ele também se especializou em salsa. Shows para empresas também preenchem boa parte da agenda e fizeram o mágico criar números inéditos, com "ingredientes" surpreendentes. Foi o que aconteceu durante um show para funcionários de uma marca de massas. Duas pizzas trocaram de lugar: do nada, a quatro queijos virou calabresa, e ninguém entendia como o truque funcionava.
– As pessoas acreditam que mágicos podem ler a mente delas, saber o que estão pensando. Mas a Psicologia mostra que é uma questão de atenção e de memória. Às vezes, a gente acha que está prestando atenção em alguma coisa, mas não está de verdade – explica.
A mágica também já apareceu no consultório: para encorajar pacientes com fobia social e medo de falar em público, Jean promoveu uma oficina de magia. Em grupo, os participantes ensaiaram para um espetáculo, que ao final do tratamento foi apresentado para amigos e familiares.
– Eles interagiram uns com os outros e ainda encararam uma plateia. Foi muito prazeroso receber o feedback, saber que ajudei. E confirmar que psicologia e mágica se completam.