No último ano de seu nono mandato como vereador de Porto Alegre, Reginaldo da Luz Pujol (DEM), o mais experiente entre os 36 parlamentares da Capital, foi alçado pela primeira vez à presidência da Câmara Municipal. Elogiado pelos colegas por ser um bom articulador, o decano do Legislativo se propõe, aos 80 anos, a romper com a ideia de que os vereadores trabalham menos em anos eleitorais.
— Vou arrumar uma composição com a lideranças e fazer do primeiro semestre um período de grande intensidade na atividade legislativa — promete o novo presidente, que recebeu a reportagem de GaúchaZH na semana passada.
Depois de um ano conturbado, com votações polêmicas e rusgas públicas entre a ex-presidente Mônica Leal (PP) e aliados do prefeito Nelson Marchezan, Pujol tentará usar a experiência e o respeito acumulado entre os colegas – aliados e adversários – para estender a bandeira branca.
— Pretendo armar um clima de paz. Não é paz armada nem paz de cemitério, é a paz da compreensão.
Confira os principais trechos da entrevista:
Como o senhor pretende conduzir a Câmara em um ano de eleições municipais?
Temos que quebrar um paradigma que se institucionalizou equivocadamente. Parece que as Câmaras perdem substância nesse período. Não vou deixar de reconhecer que a proximidade no pleito faz com que as pessoas fiquem muito voltadas para a busca da cobertura eleitoral. Mas vou arrumar uma composição com a lideranças e fazer do primeiro semestre um período de grande intensidade na atividade legislativa, superando a média de outros anos, o que permitirá que, a partir de agosto, se vá, gradativamente, flexibilizando as atividades e permitindo que o fato democrático das eleições se realize.
Tem uma série de projetos que a gritaria leva as pessoas a votarem contra.
Ao falar sobre a segurança na Câmara
A última presidente (Mônica Leal, PP) teve uma relação conturbada com o Executivo. Como será a relação com o prefeito na sua gestão?
Será aquela que tem que ser, de respeito mútuo. A Câmara não será um órgão de permanente agravo do prefeito, nem uma extensão de suas secretarias. Pretendo que se discutam projetos e que se delibere sobre eles. Ninguém tem a obrigação de aprovar o que quer que seja, e a pauta eleitoral vai permear muito coisa, por mais que eu me esforce.
A gestão anterior deixou pronto um projeto para mudar o sistema de segurança da Câmara. O senhor pretende implementá-lo?
Eu não conheço esse projeto. A transição entre e Mônica e eu se dá com o recesso em andamento e a gente não conversou muito. Alguns projetos em andamento estou conhecendo agora e, até aqui, não vi nada que justificasse ser interrompido. Esse (segurança) é um setor que temos que olhar com carinho. Essa história de se lotar a Câmara de gente e ficar todo mundo gritando e vaiando, atrapalhando as decisões, deveria ser diferente. Não é antidemocrático conter esses excessos, porque até são burros. Tem uma série de projetos que a gritaria leva as pessoas a votarem contra.
Além de experiente, o senhor é referenciado como um bom articulador entre seus colegas. Isso será uma carta na manga em momentos de tensão?
O dialogo é uma forma de ver quais os pontos que se pode negociar sem abdicar das posições que a gente sustenta.
Acerca da fama de articulador
Tem muita gente que entende que isso é pejorativo, outros dizem que é uma característica positiva. Tenho a impressão de que a idade me leva para isso. Por vezes discuto com uma pessoa de forma mais aguerrida e fico com medo de não ter tempo de me entender novamente. E o entendimento é muito importante. O dialogo é uma forma e ver quais os pontos que se pode negociar sem abdicar das posições que a gente sustenta. Pretendo armar um clima de paz. Não é paz armada nem paz de cemitério, é a paz da compreensão.
O senhor será candidato a reeleição em outubro?
Esse assunto não e prioridade no momento. Minha prioridade é conduzir bem a Câmara. Estrategicamente, dizer que eu não sou é uma burrice. E posso dizer que serei e isso não implica que eu venha a sê-lo. Então é melhor dizer que serei, a depender de algumas coisas. Sou presidente do partido e a estratégia será bem equacionada. Além disso, vou ouvir algumas pessoas, porque dizer que se concorre e se elege sem gastar nada é uma mentira. E eu não sou mentiroso. As pessoas que me ajudaram até aqui e que poderão vir a me ajudar, terei que ouvir com muito respeito.
Já teve o sonho de ser prefeito de Porto Alegre?
Já tive sim, mas já passou essa vontade. O prefeito, não que tenha que ser um guri, mas tem que ser mais jovem do que eu. Já estou meio passado no tempo. Sou abençoado por Deus de me ter trazido bem até agora, mas não posso abusar, senão ele se cansa.
Tem que ser mais jovem do que eu.
Sobre o sonho de ser prefeito
O senhor já foi da Arena e do PFL, que se transformou em DEM. Com observa esse momento em que a direita está em evidência?
Isso é uma coisa que eu até festejo. Acredito que na eleição municipal temos que ter o cuidado de não perder isso. Apesar do desgaste muito forte da esquerda, tem muita gente com saudade dos tempos anteriores, porque tinham benefícios diretos, alguns não muito republicanos. E esse pessoal está com saudade do poder. Porto Alegre foi muito tempo um reduto vermelho e, nesse ponto, a eleição do Marchezan foi muito festejada como sendo a queda de um bastião vermelho. Espero que a gente não reerga esse bastião.
Frente a isso, qual será a apostura do DEM da Capital neste ano?
Em primeiro plano, buscaremo propostas próprias. Vamos trabalhar nomes que possam ser apoiados por outras legendas, na expetativa de contribuir para uma proposta de centro-direita, sem nenhuma sofisticação. Esse é nosso dever agora. Não podemos faltar com a cidade. Cansei de votar em alguém que eu achava que era o menos pior.