Em obras no momento em que ocorreu a queda parcial de um prédio na Avenida Protásio Alves, no bairro Petrópolis, na manhã desta quinta-feira (30), o empreendimento vizinho à clínica odontológica não apresentou irregularidades na documentação, segundo as entidades de engenharia e arquitetura que estiveram no local. Tanto o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RS) quanto o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-RS) disseram não ter encontrado problemas na construção, que, segundo os bombeiros, provocou desabamento da estrutura vizinha.
— Não tem nenhum problema de documentação. Está tudo em dia, correto, e a empresa tem registro — disse o vice-presidente do Crea-RS, Francisco Bragança, que classificou o desabamento como um "fato extremo".
Uma perícia deve apurar as causas do acidente que resultou na queda de parte da clínica odontológica de onde cinco pessoas tiveram de ser resgatadas na manhã desta quinta-feira — ninguém ficou ferido. Conforme Bragança, o desabamento ocorreu em razão de uma alteração na estabilidade do solo. A construtora Rotta Ely realizava uma escavação no local no momento do acidente.
Segundo Rodrigo Jaroseski, fiscal de obras do CAU-RS, não é incomum obras de grande porte afetarem construções vizinhas. Ele destaca, no entanto, que casos de desabamento são mais frequentes em situações de irregularidade, diferentemente do contexto encontrado no Petrópolis.
— A maior parte dos casos em que isso acontece é em obras sem responsável técnico. Nesse, pode ter havido alguma falha pontual ou um imprevisto. Vamos esperar a apuração — disse.
A Defesa Civil da Capital também não possui registros de denúncias contra a obra, conforme o secretário de Segurança Pública da Capital, Rafão Oliveira, também responsável pela pasta. Ele afirma que todas reclamações e chamados ao órgão nos últimos sete meses foram analisadas e nenhum possui relação com o local. O período corresponde aos meses nos quais a equipe atual está a frente do local.
Contudo, a Defesa Civil também afirma que foi acionada em 2017 para ir ao terreno localizado na Avenida Protásio Alves por causa da demolição de sete casas, parte das obras do atual empreendimento Uma equipe da da Unidade de Manutenção Predial da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (SMAMS) esteve no local.
— Se (a reclamação) tivesse sido feita, a Defesa Civil teria ido na hora no local. Formalmente, não temos nada — afirma Oliveira
Morador relatou estalos
O evento que culminou na queda parcial de um imóvel pode não ter sido imprevisto. Segundo o CAU, um morador de uma casa vizinha à clínica odontológica relatou ter ouvido estalos na noite anterior ao acidente.
— Pode ser um indício de que a estrutura já estava cedendo, uma coisa que poderia ter sido identificada antes. A estrutura, em geral, dá sinais (de que está cedendo) — avalia Jaroseski.
Segundo um dos proprietários da clínica odontológica, o empreendimento em obras havia afetado outro prédio no ano passado, quando foram demolidas outras casas do entorno. Funcionários do local disseram, ainda, ter reclamado do barulho excessivo causado pela obra nos últimos dias.
O caso foi registrado na 8ª Delegacia de Polícia. Um inquérito deve apurar as causas do acidente. Segundo Ricardo Ely, diretor da construtora Rotta Ely, a empresa irá prestar o "suporte necessário" ao imóvel afetado.
— A gente sabe que, na infraestrutura, toda obra faz barulho. Não tem como ser diferente. Temos que obedecer aos horários legais de trabalho. Os operadores de máquinas são funcionários de empresas de renome no mercado, fazem isso há anos e seguem regras criteriosas — afirmou.
No local, deverá ser erguido um prédio residencial de 13 pavimentos, com dois andares de subsolo — a escavação realizada nesta quinta-feira era para a construção da estrutura subterrânea.