Canções natalinas, sinos, fitas coloridas e o Papai Noel de motorista. Há 21 anos, quem entra no táxi de Newton Boa Nova, 66 anos, acredita estar em um carro alegórico do Natal Luz. Ou, como definiu a aposentada Neusa Maciel, 73 anos, embarca em uma viagem no tempo:
– Ele faz as crianças reviverem o que foi a minha infância, colorida e com uma energia maravilhosa – afirma a idosa, que parou ao lado do veículo para parabenizar o bom velhinho.
O porto-alegrense começou a circular pela cidade com a vestimenta como uma forma de manter o ritual familiar.
– Eu já era o Papai Noel da família e resolvi levar isso para as ruas. É uma magia, que eu amo muito. E não vou parar, espero ir até os 100 – brinca o sorridente homem de barba branca, único item não ficcional da fantasia.
Enquanto conversava com a reportagem de GaúchaZH, o piloto do "trenó sobre rodas" dividia a atenção com buzinas e acenos dos demais motoristas. A interação com o público exige que a janela esteja sempre aberta – exceto quando não está em alguma corrida, garante. E é esse o maior desafio: encarar o bafo quente das ruas de Porto Alegre.
– Eu perco de quatro a cinco quilos no período em que uso a roupa – estima.
O decorado Chevrolet Corsa de Boa Nova é conhecido pelos usuários e ganha destaque entre os demais veículos vermelho-ibérico nas datas comemorativas e em meses de ações sociais, como setembro amarelo e outubro rosa. Para o Carnaval, criou o slogan "se vai tomar todas, tome também um táxi".
A reação dos passageiros, garante ele, é de alegria e carinho. Exceto quando alguma criança se assusta ao deparar com o inusitado taxista. Mas a rotina de encontros é tranquila. Há até famílias que se surpreendem por reencontrar o Papai Noel do táxi ainda na ativa.
– Uma mãe me disse que pegou o táxi comigo quando o filho dela tinha um aninho e hoje ela já é vó e eu continuo. Isso me alegra muito.
O que chama mais a atenção do condutor são os pedidos feitos pelos clientes.
– Eles pedem para ganhar na Mega Sena sozinhos. Aí eu digo que posso dar saúde, e que isso é o que interessa – brinca, espirituoso.
O motorista crê que a decoração o ajuda a se diferenciar no concorrido mercado, reduzido após o surgimento dos transportes por aplicativo.
– Meus colegas perguntam "estamos em crise e tu ainda vai se fantasiar?". Aí eu respondo que é na crise que temos de ser criativos – finaliza o bom velhinho, enquanto badala um sino dourado de Natal.