Quando o caminhão-pipa ingressou na Rua Pingo de Ouro, no Loteamento Santo Antônio, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, na tarde desta segunda-feira (30), uma fila de moradores se formou em menos de um minuto. Com baldes e garrafas plásticas nas mãos, cada um tentava conseguir um pouco da água que não chega à região há cerca de 20 dias.
Foi o primeiro veículo enviado pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) para socorrer quem passou o Natal com as torneiras secas e enfrentaria o Ano-Novo na mesma situação.
O caminhão com capacidade para 8 mil litros, solicitado por lideranças comunitárias da região, não foi suficiente para sanar o problema no loteamento. Na ponta da fila, o produtor e vendedor de salgados e doces Adriano Machado, 37 anos, auxiliava os vizinhos a encherem todos as vasilhas disponíveis.
Açougueiro desempregado, Machado tem sustentado a família com os produtos feitos por ele. Com a falta de água, perdeu clientes, porque não conseguiu atender as solicitações de encomendas.
— Parei a produção e avisei a todos para não termos mais prejuízo. Todo o verão é assim, mas nunca com tantos dias sem água — reclamava.
A doméstica Vera Domingues, 55 anos, correu até o veículo pedindo para encher a caixa d'água da família. Ela relata que, desde o começo deste mês, a água começou a escassear. Resultado: as roupas sujas já fazem uma montanha na área de serviço, e a família tem ido diariamente tomar banho na casa de parentes em outro bairro da cidade.
Ao contrário de Vera, a dona de casa Maria Eva dos Santos, 66 anos, passou as últimas duas semanas tomando banho usando balde e caneca. Nesta segunda (30), finalmente, conseguiu encher a caixa d'água da família.
— Pagamos a conta em dia, mas estamos esquecidos no Pinheiro. E ainda dizem que o abastecimento está normal. Isso é uma vergonha — desabafou Maria Eva.
Como o primeiro veículo não conseguiu completar o loteamento, um segundo caminhão seria enviado até o início da noite para completar a distribuição no Santo Antônio.
Em outro ponto do bairro Lomba do Pinheiro, na parada 11, a cabeleireira Adriana Pereira da Costa, 49 anos, recordava o sábado passado (28), quando precisou fazer a progressiva de uma cliente usando baldes. Pelo menos outras três clientes cancelaram os horários por falta de abastecimento. Na tarde de segunda-feira, quando um fio de água começou a correr da torneira por volta das 16h, ela correu para finalizar outra progressiva que já estava em andamento.
Solução em quatro anos
Em entrevista ao programa Gaúcha +, da Rádio Gaúcha, na tarde desta segunda-feira, o secretário municipal de Serviços Urbanos, Ramiro Rosario, e o diretor-geral do Dmae, Darcy Nunes dos Santos, afirmaram que, a curto prazo, uma estação compacta de abastecimento pode ajudar a amenizar problema nas zonas leste e sul. Mas os efeitos, também, só serão sentidos em 2021.
A estação compacta pré-fabricada tem tecnologia holandesa. O contrato foi assinado esse ano, no valor de R$ 43 milhões. Ela terá seis unidades que produzirão 30% de água, 10% a mais a partir de abril de 2020. Uma dessas unidades já está em teste, podendo trazer um aumento de 5% daqui a dois meses. A solução definitiva, apontam ambos, só virá em quatro anos, com a construção da ETA Ponte do Arado,
— Essa indignação dos moradores também é compartilhada pelos gestores públicos, ninguém não está dando bola para esta situação. Isso se deve a uma série de fatores. Ressalto dois: o primeiro, o crescimento desordenado dessas regiões, tantos de loteamentos regulares e irregulares, que acabaram sendo ligadas ou ligando-se nas redes de água. O problema é que quando não se tem planejamento chega-se a situações dramáticas como essa. Segundo ponto, nós tivemos no passado, em gestões passadas, o saque de recursos do Dmae no valor de R$ 262 milhões, retirados para pagar despesas correntes do município, e que poderiam ser usado em investimentos — disse o secretário.