No último ano, os brasileiros deram 18 voltas ao redor da terra de bicicleta, segundo o relatório anual "Year In Sport" feito pela rede social Strava. O levantamento também revelou que Porto Alegre é a cidade que mais usa a bicicleta em deslocamentos diários, desbancando cidades como São Paulo, que ocupou o segundo lugar, e Rio de Janeiro, que ficou na terceira posição.
Na Capital, 34% dos usuários do app optam pela bike para se deslocar de um ponto ao outro, e as mulheres usam menos esse tipo de transporte do que os homens – a diferença entre gêneros é de 2,5%. Para a ciclista e voluntária da ONG Bike Anjo Tássia Furtado, isso ocorre porque a bicicleta era considerada "um brinquedo de menino" até pouco tempo.
A estudante de jornalismo Júlia Provenzi, 20 anos, já é de uma geração que não faz essa diferença. Ela notou que o caminho até a faculdade e o estágio poderia ser muito mais rápido de bicicleta do que de ônibus e adotou o transporte. A ciclovia que permeia o trajeto a incentivou a comprar o equipamento para se deslocar todos os dias. No início, ela só andava nas faixas exclusivas, mas, depois de um ano e meio se movimentando sob as duas rodas, já se sente segura para andar no trânsito.
Ela e o namorado, Henzo Berlesi, 22 anos, preferem se deslocar de bike sempre que possível, mesmo quando o trajeto é longo. Júlia, contudo, ainda evita pedalar à noite.
– Estando em cima da bike, você fica vulnerável. Eu até pedalo durante a noite, mas só se eu estiver acompanhada – explica Júlia.
Henzo não se sente tão vulnerável. Ele roda a cidade com sua magrela independentemente da distância ou do horário, e acredita que a bicicleta é sempre a melhor forma de se locomover. Apesar de reconhecer que nem todo mundo se arrisca em grandes distâncias, principalmente depois do entardecer, acredita que o título alcançado pela Capital seja reflexo da nova Orla e de ciclovias e ciclofaixas na cidade.
– Optar pela bicicleta como meio de transporte exige experiência com a cidade e uma dinâmica com percurso, mas, desde a Copa do Mundo de 2014 e a mudança na Orla, percebo que existiu um incentivo para as pessoas em tentar usar mais a bicicleta.
Bike por opção
O administrador Lauro Roisenberg, 43 anos, desloca-se de bicicleta até o trabalho no mínimo três vezes por semana. Um dos motivos da escolha, ele diz, é ter o prazer de passar pelos engarrafamentos com a certeza de que fez a escolha.
Para ele, um dos motivos de Capital despontar no ranking do Strava é a adesão dos jovens à bike. A questão humanitária e ambiental também parece cara aos ciclistas, segundo Roisenberg.
Experiente, ele garante, no entanto, que ainda falta um pouco mais de empatia entre motoristas e ciclistas.
– Pedalar no Uruguai, por exemplo, é muito diferente. Lá os carros dão o lado, esperam o momento certo na hora de ultrapassar. Aqui, o porto-alegrense é nervoso. Mas agora, com essa notícia aí, talvez mude, né? – indaga esperançoso.