
A Polícia Civil deflagrou a Operação Argentários nesta terça-feira (1º) e prendeu o vereador de Porto Alegre André Carús (MDB), suspeito de obrigar servidores a tirarem empréstimos consignados para entregarem o dinheiro a ele. Além do parlamentar, duas pessoas foram presas temporariamente — um servidor do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) e outro do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) – e uma, em flagrante, por porte ilegal de arma de fogo.
Este homem estava com dois revólveres calibre .38, sem registro, na casa de um dos proprietários da MunicredPOA, cooperativa de crédito que liberava os empréstimos que estão sob investigação. A polícia ainda apura se a financeira participava do esquema ao liberar valores acima do previsto por lei.
Além das prisões, foram cumpridos 10 mandados de busca e apreensão em residências de suspeitos, além do gabinete de Carús na Câmara Municipal. O político foi preso em casa, no bairro Santo Antônio, e nega as acusações.
Os nomes dos outros presos não foram divulgados. GaúchaZH tenta contato com a MunicredPOA, mas não conseguiu retorno até a publicação desta matéria.
Entenda como funcionava o suposto esquema.
Empréstimos com desconto em folha
De acordo com o delegado Max Otto Ritter, titular da 1ª Delegacia de Polícia do Departamento de Combate à Corrupção (DCCOR), assessores do parlamentar tomavam empréstimos com desconto em folha acima dos 30% permitido em lei.
— A pessoa já tinha a margem (de 30%) extrapolada e, sob pretexto de ter problema de saúde, contraía novos empréstimos. Vamos agora ouvir todos os servidores e pedir que justifiquem a necessidade e onde os valores foram aplicados, ou, como mostram as investigações, se foram para algum fim pessoal. Se alguém está doente, tem exames. Se compra um carro ou uma casa, tem escritura — exemplificou.
Carús tem entre sete e oito servidores em seu quadro, de acordo com a Polícia Civil. Houve comprovação de que ao menos metade retirou valores com desconto automático no contracheque. Há ainda outras pessoas investigadas.
— Chegou ao nosso conhecimento que pessoas estranhas ao gabinete, mas de alguma forma vinculadas ao agente político (Carús), teriam contraído empréstimo por intermédio dele. Isso seria do conhecimento da instituição financeira, e é o que buscamos comprovar — afirma o responsável pela investigação.
O político é investigado por falsidade e concussão — que é exigir para si ou para um terceiro vantagens utilizando a função que ocupa.

Dinheiro encontrado em residência
Os valores envolvidos e quantos servidores teriam sido lesados ainda não foram levantados pelos investigadores. Ao realizar busca e apreensão na casa de Carús, foram apreendidos documentos que "dizem respeito à investigação", segundo o delegado, além de três celulares e tabelas com valores e nomes, que serão analisados.
Na casa de uma pessoa ligada à instituição financeira, foram encontrados R$ 60 mil em espécie, além de US$ 3,8 mil, 2.605 euros e 1.175 libras esterlinas. Não houve comprovação da origem dos valores apreendidos.
As suspeitas sobre o esquema começaram após uma ex-assessora do parlamentar procurar a polícia, há pelo menos um ano. Demitida do gabinete, ela afirmou que teve de continuar pagando as prestações do empréstimo, no valor de R$ 6 mil por mês.
— Ela deu detalhes, contou e demonstrou isso através de documentos. A partir desse início de prova, representamos pelo Poder Judiciário e hoje realizamos a operação — disse Ritter.

"Nunca pedi dinheiro a nenhum assessor"
Carús não resistiu à prisão, segundo o delegado. O vereador — que afirma ser vítima e que irá esclarecer os fatos — disse estar sofrendo ameaças de morte, denúncia que será investigada.
Após ser detido em casa, ele foi conduzido à sede do Departamento de Investigações Criminais (Deic), onde chegou por volta de 9h. Ao registrar a prisão na Delegacia de Pronto Atendimento, conversou com a reportagem de GaúchaZH. Ele disse desconhecer os detalhes da denúncia, e afirmou que foi à sede do Deic "para colaborar com a polícia".
— Tenho empréstimos no meu nome. Nunca pedi dinheiro a nenhum assessor — declarou.
As prisões temporárias têm prazo de cinco dias, podendo ser renovadas por mais cinco. Caso haja necessidade, a polícia pode pedir à Justiça a conversão da prisão temporária em preventiva, sem prazo determinado.