A presença de uma dupla vestida como Deadpool e como assaltante mascarado da série La Casa de Papel em uma sala de cinema virou caso de polícia no último final de semana, em Porto Alegre. De acordo com boletim de ocorrência registrado na delegacia, frequentadores "acharam que podia ser um atentado terrorista". Os dois envolvidos consideram que foram malcompreendidos, mas as regras do cinema proíbem entrada em salas com máscaras ou armas de brinquedo.
O caso ocorreu na última sexta-feira (18). Os dois cosplayers, um soldado de 20 anos e um adolescente de 15, entraram na sala de cinema do Shopping Total no final de uma sessão de Malévola, da Disney. Frequentadores se sentiram incomodados e chamaram a Brigada Militar. Os envolvidos na confusão foram levados à 3ª Delegacia de Polícia, onde as armas de brinquedo e máscaras foram apreendidas.
Anderson Knopp Leão era o homem por trás da máscara de Deadpool, personagem da Marvel. Soldado do Exército, ele acabou ficando sem as duas espadas de plástico (que ficam presas às costas) e as pistolas, também de plástico e que, bem como na vestimenta do anti-herói, ficam presas às pernas. Com a fantasia que ele diz custar R$ 1,5 mil desfalcada, relata que deixou de ir ao evento de anime que ocorreu no Centro de Eventos da Fiergs no mesmo fim de semana.
— Fiquei magoado. Já me fantasio há três anos, isso nunca tinha acontecido — diz.
Leão afirma que tinha recém saído de um evento beneficente em uma praça de Alvorada, na Região Metropolitana, com a fantasia de Deadpool, e que assistiria ao filme Coringa às 21h40min. Como ele e o amigo conseguiram entrar antes no cinema, resolveram ver um trecho de Malévola.
O soldado diz que entrou com a máscara, sentou-se em uma cadeira, mas, em nenhum momento, manuseou as armas de brinquedo. Afirma que ele e o amigo saíram da sala quando alguns frequentadores passaram a demonstrar desconforto — segundo ele, "começaram a olhar de um jeito que não era normal". Ainda de acordo com Leão, um frequentador os seguiu para tirar satisfações, perto da porta da sala de cinema. O jovem diz que tentou se aproximar "para acalmá-lo" e que, neste momento, foi empurrado.
GaúchaZH não conseguiu contato com o homem que se sentiu incomodado. Na delegacia, ele disse à polícia que a entrada dos dois "causou tumulto e desespero nas pessoas que estavam na sessão de cinema, a qual encontrava-se totalmente escura", como ficou grafado no boletim de ocorrência. Afirmou ainda que uma senhora, não identificada, passou mal.
Leão também registrou um boletim de ocorrência alegando constrangimento ilegal — ele pretende processar o homem envolvido na confusão por danos morais.
O caso foi encaminhado para investigação na 17ª Delegacia de Polícia. O delegado Juliano Ferreira avalia que os cosplayers não cometeram nenhuma contravenção penal — acha que não configura ameaça, como foi registrado no BO. Não pode dizer, porém, se houve constrangimento ilegal — diz que será feito um termo circunstanciado e que o caso vai ser encaminhado para a Justiça.
— Agora, existe a questão do bom senso. Nos tempos em que vivemos, entrar com arma de brinquedo em um cinema pode assustar as pessoas — pondera.
A assessoria de imprensa do Shopping Total afirma que o controle das pessoas que acessam o cinema é feito pelo Cineflix. Destacou, contudo, que é proibida a circulação no shopping de pessoas com máscaras no rosto por questões de segurança. Essas pessoas podem ser abordadas por algum segurança, que pedirá a retirada das máscaras.
Sócio do Cineflix, Douglas Mandrot afirma que eles foram autorizados a ficar nas áreas comuns com a vestimenta, mas tinham sido orientados pela gerência a não entrar nas salas de cinema dessa forma (Leão nega que houve essa orientação). De acordo com Mandrot, não é permitido ingressar em sala de cinema com fantasia e arma de brinquedo. Ele não soube informar se os clientes pediram para a gerência do cinema a remoção da dupla de cosplayers.