Em uma das áreas industriais mais importantes de Porto Alegre, onde já circularam 3,5 mil empregados de uma tecelagem ou caminhões carregados de produtos químicos, hoje restam um segurança e dois cachorros. Se um leilão programado para ocorrer dia 5 de dezembro tiver sucesso, o terreno de 32 mil metros quadrados localizado em um ponto estratégico na zona norte da Capital poderá encontrar novo destino.
A área onde já funcionaram uma das mais importantes tecelagens do Estado, a célebre Guahyba, e a polêmica Cettraliq — vinculada a alterações no gosto e no cheiro da água consumida na cidade — chegou a ir a leilão no final do ano passado. A primeira tentativa de negociar o imóvel localizado ao lado do DC Shopping, no bairro Navegantes, não deu certo.
Desde então, a dimensão do terreno foi revisada e se descobriu que era um pouco maior do que o estimado anteriormente, enquanto o preço foi ajustado para baixo. A pedida inicial de R$ 16,9 milhões recuou para R$ 12 milhões. Os equipamentos da Cettraliq formam um lote à parte orçado em R$ 400 mil.
Veja imagens da área e do interior dos pavilhões
— Houve interessados, mas não chegaram a fechar negócio. Acreditamos que agora poderemos ter sucesso — afirma o leiloeiro responsável, Giancarlo Peterlongo.
A Cettraliq fechou as portas em 2016 em razão das implicações ambientais, e a Guahyba havia deixado de funcionar em definitivo no começo dos anos 2000. Uma visita ao interior dos pavilhões da Rua Frederico Mentz, número 1.683, revela que o maquinário pesado e até mesmo grandes rolos de tecido envelhecido permanecem no local. É como se os funcionários tivessem parado de repente e abandonado o serviço. Em razão do clima sombrio, nem todos aceitam trabalhar nas imediações.
— À noite, o vento provoca alguns barulhos. Às vezes, chega a cair alguma parte da estrutura. Houve um colega que pediu demissão porque ficava com medo — conta o segurança Paulo Cunha, 48 anos, que toma conta do perímetro com o auxílio dos cães Preto e Alemão.
No espaço da Cettraliq, que ocupava outra parte do terreno e algumas salas herdadas da Guahyba, não há mais qualquer cheiro. Os dois tanques a céu aberto armazenam apenas um pouco de água da chuva, que é periodicamente bombeada.
Segundo um laudo elaborado a pedido da administração da massa falida, não haveria mais contaminantes no local. Essa massa falida reúne, sob o nome Villa D'Este, diferentes empresas que operavam no mesmo endereço, pertenciam aos mesmos donos, o casal Wolf e Betty Gruenberg, e foram à falência.
Algumas partes do complexo, como uma chaminé de tijolos e uma rampa onde permanece pendurado um relógio, foram inventariadas por ter valor histórico e não poderão ser demolidas pelos futuros donos de um dos endereços que faz parte da história industrial de Porto Alegre.
O LEILÃO
- Quando: 5 de dezembro, às 15h30min
- Onde: átrio do Foro Central de Porto Alegre, Rua Manoelito de Ornelas, 50, bairro Praia de Belas
- Lance inicial: R$ 12 milhões (terreno e pavilhões)