Ao ler uma carta de seis páginas na qual denunciou "uma prisão violenta e absurda", André Carús (MDB) renunciou ao mandato de vereador de Porto Alegre na manhã desta quarta-feira (23). Carús é investigado por suspeita de ter coagido funcionário de seu gabinete a contrair empréstimos e repassar a ele o dinheiro.
— Renuncio porque tenho vergonha na cara — disse o ex-vereador, depois de ler o manifesto que será entregue à presidente da Câmara Municipal, Mônica Leal (PP).
Carús anunciou a saída da vida pública em sua primeira manifestação depois de deixar a cadeia, no último dia 10. No Presídio Central, o ex-vereador cumpriu a prisão temporária, solicitada pela Polícia Civil, durante as investigações que macularam a sua trajetória política.
Durante o pronunciamento, concedido no diretório municipal do MDB ao lado de seu advogado, Jader Marques, Carús também anunciou a renúncia à presidência do partido na Capital. Ele negou as suspeitas, mas disse que precisa do afastamento para reorganizar sua vida pessoal.
Segundo o ex-vereador, nunca houve constrangimento aos seus assessores. No inquérito, porém, a Polícia Civil apura as denúncias de que servidores do seu gabinete eram obrigados a contratar empréstimos pessoais para saldar dívidas de Carús. De acordo com o delegado Max Otto Ritter, há casos de assessores que tiraram empréstimos com desconto em folha acima dos 30% permitidos por lei. A polícia também investiga a financeira MunicredPOA por liberar os consignados nos valores que ultrapassam os legais.
Carús contou que, desde o início do mandato, em 2017, enfrentava uma "situação financeira complicada". Sem detalhar a origem do endividamento — ele apenas esclareceu que não se tratam de dívidas de campanha —, contraiu um empréstimo no Banrisul que comprometia cerca de 40% de seu salário líquido como vereador (em torno de R$ 10 mil).
O ex-vereador admitiu que, como não conseguia dar conta das despesas mensais e da parcela que deveria pagar ao banco, recorreu a agiota — cinco, de acordo com seu depoimento. Os agiotas teriam começado a ameaçá-lo, por meio de mensagens e telefonemas, além de envolver seus familiares e amigos. Carús ainda relatou que pegou um novo empréstimo, dessa vez, com a MunicredPOA. Sem saída, reuniu os assessores de seu gabinete para uma reunião.
— Se formou uma bola de neve — afirmou Carús.
Pela sua versão, os funcionários, que ocupavam cargos em comissão, chegaram à decisão "coletiva" de ajudá-lo, uma vez que ele sequer conseguia manter as funções de vereador por causa da tormenta pessoal. Carús garantiu que os assessores fizeram empréstimos por "livre e espontânea vontade" e que "nenhum momento pode ser classificado como extorsão". Hoje, as dívidas do parlamentar ultrapassariam R$ 400 mil.
— O superendividamento te coloca em uma situação de desespero — completou.
Com a sua saída, Lourdes Sprenger (MDB) assume como titular na Câmara. Por causa de uma manobra do partido — na segunda-feira (21), a vereadora Nádia Gerhard (MDB) deixou a Secretaria de Desenvolvimento Social e Esporte e reassumiu no Legislativo municipal —, a legenda manteve cinco cadeiras na casa. Caso contrário, a vaga de Carús ficaria com Delegado Cleiton (PDT).