A moda pode ser um instrumento para a inclusão social. Foi isso que provou a ONG Centro Social de Rua, que promoveu neste domingo (29) um desfile com pessoas em situação de vulnerabilidade na Capital. Por uma tarde, Elisângela, Luana, Daniel, César e Micael trocaram as ruas pela passarela — os sobrenomes não foram divulgados a pedido dos participantes do projeto. No pátio da Escola Porto Alegre, no Centro Histórico, eles apresentaram peças produzidas especialmente para quem vive uma vida sem moradia fixa, levando seus pertences sempre consigo.
As peças foram criadas por diferentes estudantes de Moda e são resultado do 5º Concurso Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda (Abepem) de Modelagem. Na última edição, a proposta era que os participantes pensassem em soluções que ampliassem a qualidade de vida de pessoas em situação de rua.
— A gente costuma ter ideia de que a moda é uma coisa elitista. Não é verdade. Quando o concurso foi concebido, nossa ONG foi chamada para ajudar a orientar os participantes. Todos tinham uma consciência muito legal de que a moda pode estar ao lado de quem quer promover inclusão social — afirma Letícia Andrade, voluntária do Centro Social de Rua.
Há dois anos, a ONG oferece serviços de lavanderia e banho para quem vive nas ruas da Capital.
— Um desfile como esse faz com que a questão da autoestima dos participantes seja mobilizada — avalia Letícia Gonçalo de Morais, coordenadora do Centro.
Todas as peças desenvolvidas tinham funções que iam além da proteção e da estética. Daniel, por exemplo, serviu de modelo para um traje que também se tornava uma pequena barraca.
— Será que cabe um cachorro dentro da barraca? — questionou Daniel, preocupado com o conforto da cadelinha Vitória, que o assistia ao lado da passarela.
Para Micael, que vestiu uma peça que também servia como saco de dormir, ações como essa podem ser transformadoras. Aos 30 anos, mora na rua desde os 14. Hoje atua como reciclador para manter seu sustento.
— Quando fui morar na rua, não imaginava que alguém poderia se preocupar com gente como eu. Trabalhos como o da ONG ajudam muita gente a achar um rumo e a lidar melhor com seus problemas — afirma Micael.