Quase todo sábado, Lars Berger Hubbe, 24 anos, pega o trem em São Leopoldo e desce na Estação Aeroporto ainda pela manhã. Entra no Salgado Filho, tira seu binóculo da mochila e começa a observar aviões decolando e pousando por horas, até perto de anoitecer.
A paixão por aviação do jovem, que tem déficit de atenção e hiperatividade, e a quantidade de tempo que passa junto às janelas panorâmicas desde os 11 anos lhe dão popularidade entre quem trabalha no aeroporto. E esse carinho lhe oportunizou realizar um sonho na noite desta quarta-feira (12): em alusão aos oito anos de atividades da TAP no Rio Grande do Sul, foi convidado para entrar pela primeira vez num avião da companhia e conhecer a cabine.
É que, de uns tempos para cá, Lars tem voltado suas atenções especialmente para os aviões que fazem voos entre Porto Alegre e Portugal. É tão fã que sabe de cor o nome de praticamente todos os pilotos que comandam as viagens. O jovem não escondia a ansiedade antes de lhe entregarem um crachá temporário para acesso à área de embarque internacional. Quando a coordenadora do terminal elogia sua roupa — usava uma camisa azul, já suada por causa da agitação —, disparou, animado:
— Eu vou entrar na cabine do TAP!
O jovem foi contando a novidade aos funcionários que encontrava — que lhe conheciam pelo nome —, do check-in à área do raio X. Alguns pediram para tirar foto com ele no caminho, para ter algum registro do dia especial do amigo.
— Ele é um fofo — comentou para a repórter a operadora de raio X, após ouvir a boa nova de Lars.
Esperando junto à plataforma sanfonada que dá acesso aos aviões, antes do pouso da aeronave de Portugal, ele aproveitou para "binocular" outros aviões pousando.
— Aquele é o Lan chique de Santiago. E sabe qual é aquele? É da Gol.
Quando viu, de longe, o Airbus A330 da TAP se aproximar, correu pela extensão das janelas panorâmicas para se postar no melhor ponto de observação. "Uhuuuu" foi o que berrou quando as rodas tocaram no chão.
— Gosto de ouvir o som das turbinas — confidenciou também.
Lars foi recebido na porta do avião por toda a tripulação, que pediu uma foto com ele. Recebeu alguns mimos da companhia (uma réplica de um A330 New e chocolates) e o próprio piloto, Ventura Costa, lhe trouxe uma sacola com pasteis de nata da sua terra natal.
— És muito simpático — agradeceu o jovem, que arrancou risadas por deixar escapar um sotaque fake de português de Portugal.
Lars não deixava um segundo de silêncio. Na cabine, disparou uma lista de nomes de pilotos, para saber quais deles Ventura Costa conhecia. Foi autorizado a ligar as luzes do painel no teto e confirmou informações que ele mesmo já sabia — quais eram os botões e alavancas que acionavam trem de pouso e a porta da cabine, por exemplo. O comandante perguntou como ele sabia dessas coisas.
— Eu sou esperto — respondeu.
As homenagens ao filho emocionaram a tradutora Nadja Berger, 57 anos.
— Desde criança, ele sempre gostou de aviões, de ver revistas, colecionar miniaturas — lembra a mãe. — Isso aqui é um sonho para ele.