As botas de borracha e as sacolas plásticas fazem parte do kit sobrevivência dos moradores da ruas A, B, C, E, F, e G, na Parada 21, no bairro Lami, extremo-sul de Porto Alegre. Tudo isso porque, quando não é água acumulada pela chuva, é o lamaçal que toma conta das vias. Dono de uma loja de material de construções na esquina da Estrada Otaviano José Pinto com a Rua C, Telmo Gomes, 37 anos, conta que com frequência recolhe da esquina as sacolas deixadas pelos pedestres que precisam ensacar os pés para sair de casa e caminhar até a estrada, que tem asfalto, e por onde passa o ônibus.
— Vendo direto botas por causa dessa situação. O problema aqui é que não tem por onde escoar a água — explica.
A cada esquina há valões que dificultam ainda mais a situação dos moradores. O pedreiro Eroni Machado, 60 anos, conta que alguns motoristas não se arriscam a atravessar as ruas. Ele lembra que, há cerca de um mês, uma patrola da prefeitura trabalhou bairro, mas pouco adiantou.
— Semana passada (quando choveu todos os dias), a rua estava fechada, a água transbordava dos valos, e sempre foi assim, mesmo a gente pagando impostos — relata.
Conviver com estas circunstâncias já virou hábito para os moradores.
— É um buraco dentro do outro. Na calçada deve ter mais um (buraco) parado esperando vaga para entrar — ironiza o aposentado Eloir Gomes, 79 anos.
A Rua F é uma das mais prejudicadas pelo acúmulo de barro. Como não há calçadas, quem transita a pé não tem como escapar. Em dias de chuva, a água acumulada chega a um palmo da mão, segundo o aposentado Pedro Alberto Back, 64 anos, morador da rua desde 2014.
— Na minha casa não entra água, fiz uma proteção de concreto, mas em outras entra. E não precisa de muita chuva para ficar assim — disse o morador, que só sai de casa de galochas.
Dificuldade para morador que usa cadeira de rodas
Oriovaldo Saldanha, 72 anos, pai de Igor Felipe, 28 anos, divide a rotina de problemas da família. Igor usa cadeira de rodas e, para sair de casa, precisa contar com ajuda de amigos, já que é impossível circular pela rua.
— Ele sai de casa às 6h e volta às 22h30min. Um amigo pega ele de carro e leva até o asfalto para pegar o ônibus, pois ele trabalha no Centro como autônomo. Já estragou duas cadeiras de rodas, a última conseguimos recuperar — comenta o pai.
Perto dali, a situação das ruas também prejudica o trânsito dos ônibus. Segundo a EPTC, seis linhas que passam pela Estrada Luiz Corrêa da Silva, no mesmo bairro, estão sendo desviadas. São elas: 269, 267.2, 267.5, D67 e R67. Os desvios estão sendo realizados pela Estrada do Varejão, Estrada Otaviano José Pinto e Estrada do Lami, nos dois sentidos.
Trabalhos previstos para esta semana
Procurada, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) informou, por meio de nota, que algumas ruas do bairro não possuem redes públicas de drenagem. Por este motivo, o escoamento da água da chuva é feito por meio de valas. Em alguns casos, segundo a prefeitura, trata-se de invasões.
Ainda conforme a nota, para solucionar os problemas com alagamentos e promover melhores condições de trafegabilidade das vias em todo o bairro Lami, são necessários projetos e obras estruturais de macrodrenagem de mais de R$100 milhões segundo o Plano Municipal de Saneamento (PMSB) de 2015. A Divisão de Conservação de Vias Urbanas (DCVU) inicia ainda nesta semana o serviço de patrolamento no bairro.