Ao se espreguiçar na manhã deste sábado (4), o porto-alegrense provavelmente já tem alguma programação usual em vista: talvez um passeio pela Orla, quem sabe a feira ecológica no Brique da Redenção ou ainda um mate na Praça da Encol. Para os empreendedores do Distrito Criativo, hoje é o dia de agir para que um destino alternativo de Porto Alegre seja anexado a essa lista.
Das 9h da manhã de sábado até a madrugada de domingo, mais de 20 estabelecimentos montaram uma programação que fará valer a pena passar o dia nas (ainda) pouco badaladas ruas do Floresta, São Geraldo, Independência e vizinhos. A iniciativa se chama Dia C.
— O movimento da loja no final de semana é bom, mas costuma ser gente que nos descobre de alguma forma e vem direto aqui. A ideia desse Dia C é colocar uma música, fazer oficinas e estimular o pessoal a circular pela rua para descobrir outros lugares legais — conta Rodrigo Sandri, da loja de antiguidades Mundaréu, onde o fervo começa às 10h.
Veja abaixo a programação em cada ponto da região:
Serão mais de 40 eventos como bazares, apresentações artísticas, exposições e opções gastronômicas. Seria um bom exemplo de "revitalização do Quarto Distrito", mas é perceptível, ao conversar com os empreendedores da região, um certo desgaste do termo.
Segundo Jorge Piqué, da agência de design e inovação UrbsNova, um dos motivos é o Distrito Criativo abranger também empreendimentos vizinhos à região. Mas a principal explicação é que "revitalização" remete ao uso político de um tema que, na avaliação dos empreendedores, pouco andou no que dependeu do poder público.
— Quando essa conversa de revitalização ocorreu, em 2015, o Distrito Criativo já existia há dois anos. Tivemos diversas reuniões com a prefeitura e apresentamos o que seriam as nossas prioridades de melhorias para a região. Desde então, nunca mais tivemos retorno — declara Piqué.
Nós tínhamos essa perspectiva de revitalização, mas ela meio que estancou. Todas as medidas nesse sentido estão partindo da iniciativa privada, como esse evento que estamos organizando amanhã. Talvez seja isso que impeça que a região volte a ficar degradada
ISABEL LEITE
proprietária da Vila Velô
Em novembro de 2015, entrou em vigor no município a Lei Complementar Nº 721, que estabelecia medidas de incentivo e apoio à inovação, à pesquisa científica e tecnológica e, posteriormente, à indústria criativa. O texto previa que o Executivo disciplinaria modalidades de incentivo como isenção ou abatimento de tarifas como IPTU, ITBI, além de taxas e custos de licenças. Em tese, seria o instrumento legal para que a prefeitura auxiliasse a desenvolver o Quarto Distrito e outras regiões.
Porém, entre as dezenas de pequenos negócios do Distrito C, não se sabe de alguém que tenha sido beneficiado. Quem pediu, reclama de nunca ter recebido resposta. Outra iniciativa badalada foi o Masterplan, projeto de investimento na região que contaria com R$ 30 milhões para obras de infraestrutura financiados pelo Banco Mundial. O projeto, porém, ainda repousa nos escaninhos da prefeitura.
— Nós tínhamos essa perspectiva de revitalização, mas ela meio que estancou. Todas as medidas nesse sentido estão partindo da iniciativa privada, como esse evento que estamos organizando amanhã. Talvez seja isso que impeça que a região volte a ficar degradada — opina Isabel Leite, da loja Vila Velô, que vai realizar um feirão de bikes usadas neste Dia C.
Se medidas de incentivo do poder público não saíram do papel, os empreendedores apontam que o poder público poderia auxiliar na região melhorando o básico, como a iluminação pública e os problemas no sistema pluvial, já que a região é cenário frequente de alagamentos, prejudicando sobretudo negócios como galerias de arte e antiquários.
— Enquanto isso, a gente vai mantendo o Distrito Criativo o que sempre foi: empreendedores unidos para realizar o máximo de impacto positivo na região com o menor custo possível, sem a ajuda de ninguém — completa Piqué.