Andar a pé pelo Centro Histórico de Porto Alegre pode ser um desafio devido ao estado de conservação das calçadas. A Blitz DG circulou por ruas e avenidas do coração da Capital e presenciou diversos problemas, como paralelepípedos soltos ou quebrados, buracos e armações de ferro expostas. Até algumas pequenas pedras do calçadão da Rua da Praia – que foram removidas para obras – estão esquecidas ao pé de uma árvore. Atualmente, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade (Smim) vem fazendo um mutirão de vistorias dos passeios no Centro Histórico.
Em nota divulgada pelo Executivo, consta a informação de que as calçadas são vistoriadas regularmente por equipes da Smim. Entretanto, em alguns pontos visitados pela reportagem, há relatos de que o descaso dura cerca de dois anos. Apesar de o conserto dos passeios públicos ser responsabilidade dos proprietários, a prefeitura precisa notificá-los para que as obras sejam feitas.
Entre as calçadas pelas quais o Diário circulou, a situação mais preocupante é a da Rua Vigário José Inácio, no trecho entre a Avenida Otávio Rocha e a Rua Voluntários da Pátria. Apesar de ser formada somente por paralelepípedos e ser usada como uma espécie de “calçadão”, veículos, como viaturas, caminhões de lixo e, principalmente, carros-fortes, também circulam pelo local.
Além disso, comerciantes relatam que veículos de passeio também utilizam a via após as 18h. Por esta razão, a impressão é de que a calçada está em obras, já que boa parte das pedras está solta ou já nem existe mais, deixando buracos no passeio.
— Pelo menos uma vez por dia, tenho que ajudar alguém a levantar após um tombo nessa buraqueira — conta Fernando da Silva Fagundes, 30 anos, fiscal de uma farmácia da via.
Algumas quadras distante dali, com paradas de ônibus por onde embarcam e desembarcam milhares de passageiros diariamente, a Avenida Salgado Filho apresenta um trecho perigoso. Uma árvore que ocupava o passeio foi cortada. O buraco onde estava o tronco foi concretado. Porém, os restos das raízes sobressaem ao concreto, um convite para tropeços.
— Faz uns quatro meses que cortaram essa árvore e deixaram assim. O pessoal desce apressado do ônibus e tropeça — relata Rita de Cássia Laub, 46 anos, auxiliar de serviços gerais.
Obras ficam pela metade
Próximo dali, na esquina da Vigário José Inácio com a Rua Voluntários da Pátria, as pedras soltas também incomodam, conforme relata o comerciário de um estabelecimento do local.
— Nem parece que isso aqui é o centro da cidade — critica o comerciário Sérgio Roberto Meireles, 59 anos.
Circulando pelas principais ruas e avenidas do Centro, a impressão é de que os reparos em calçadas são feitos de maneira paliativa, sem preocupação com a durabilidade do conserto. Das pedras que se soltam, por exemplo, parte é substituída por concreto, que se desmancha com a passagem de pedestres. Em certo ponto da Rua dos Andradas, já perto da Praça da Alfândega, o desgaste é tanto que a armação de ferro usada na concretagem está exposta.
Poucos metros adiante, no calçadão da Rua da Praia, pedras foram arrancadas para uma obra subterrânea. Entretanto, após a intervenção ser concluída, não foram recolocadas. Atualmente, estão amontoadas ao pé de uma árvore, ao lado do calçadão.
— Esse trecho é uma obra de arte. Mas qualquer um mexe, faz obras, arranca pedras, faz buracos e deixa assim — opina o artista gráfico Roberto Mariano, 61 anos, 40 destes como morador do Centro Histórico.
Deficiente visual que circula pela Rua da Praia, Wilson de Borba, 56 anos, conhece bem os perigos da região:
— Mesmo sem enxergar, sei onde passar. Como os buracos estão ali há tempo, já decorei o caminho.
Prefeitura afirma que fará alguns consertos
A reportagem procurou duas secretarias para responder aos questionamentos referentes à Blitz DG. No caso das raízes de árvore na Salgado Filho, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) explicou que “está em análise um projeto para destocamento, ou seja, retirada dos tocos ou resíduos dos vegetais cortados, prevendo o atendimento destas situações”. Isso porque, segundo a pasta, até o momento, a remoção de raízes de árvores suprimidas não é realizada pelo município.
Sobre os buracos e pedras soltas nas calçadas, a Smim informou que o mutirão organizado para vistoriar as calçadas passará por todos estes locais até o fim do mês de março. Em abril, os proprietários começarão a ser notificados para que tomem providências. Além disso, garantiu que a Divisão de Conservação de Vias Urbanas (DCVU) já trabalha na restauração do calçadão da Rua da Praia e na próxima semana vai consertar o trecho da Vigário José Inácio. Quanto aos problemas na Rua dos Andradas, está na programação do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) a repavimentação do trecho.
Lojistas aguardam notificação
Segundo o presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (Sindilojas), Paulo Kruse, os comerciantes e proprietários de estabelecimentos do Centro Histórico têm ciência de sua responsabilidade.
— Cabe à prefeitura notificar quando houver um problema. Aí, nós auxiliaremos os lojistas para que regularizem os passeios — explica Paulo.