O calor em Porto Alegre neste verão não facilita a vida de quem precisa circular pela região central da cidade. O sol escaldante faz o corpo pedir água com frequência. E, para quem não carrega sua própria garrafa ou não está disposto a pagar pelo líquido, encontrar um bebedouro público é tarefa difícil.
Nesta semana, o Diário Gaúcho visitou cinco pontos de grande movimento na região central de Porto Alegre: o Mercado Público, o Terminal Parobé, a Praça da Alfândega, o Parque da Redenção e a nova Orla do Guaíba. Conforme a Blitz DG verificou, apenas na Redenção é possível encontrar os equipamentos. E, ainda assim, nem todos os pontos de distribuição de água estão funcionando.
Fatores como vandalismo e alto custo são apontados pelo poder público como motivos pelos quais é difícil manter bebedouros nestes pontos. Porém, para quem circula pelos locais, o equipamento faz falta. Haitiano que vive há seis anos na Capital, o padeiro Ernso Elysee, 40 anos, sente falta de bebedouros no local, principalmente nos dias mais quentes.
– Se tivesse, ajudaria bastante. Quando está muito calor, uso a pia do banheiro para me refrescar – conta.
Trabalhando em uma farmácia no Centro, Pyetra Porto, 21 anos, costuma aguardar o início do expediente na Praça da Alfândega. Ela acredita que a água disponível seria uma boa ajuda contra o calorão:
– Se chego cedo e preciso de água, tenho que ir no serviço buscar.
Patrimônio
O Mercado Público de Porto Alegre também não conta com bebedouros para suprir a sede das milhares de pessoas que cruzam o local diariamente. Além dos próprios moradores da cidade, o local também recebe turistas. O industriário aposentado Zanoni dos Santos, 69 anos, reclama da situação. Quando a sede aperta, ele tem de comprar água em alguma das bancas do comércio.
– Parece até estratégia comercial. A gente fica com sede, não tem bebedouro, acaba comprando água mineral – critica ele.
Os traços modernos da reformada Orla do Guaíba também não contemplam essa necessidade básica dos frequentadores: tomar água. O espaço, que tem ciclovia, calçadas, deques e passarelas, não conta com uma opção sequer para quem está com sede. A saída é comprar o líquido.
– Eu venho correr aqui, sempre trago um trocado no bolso para comprar água, pois sei que não vou encontrar bebedouro – relata Gabriel Santos, 27 anos, que trabalha como motorista de aplicativo.
Na redenção, alívio no calor
Dos cinco pontos visitados pela reportagem, apenas a Redenção conta com bebedouros públicos. São 11 equipamentos espalhados pelo parque, principalmente, próximo das pracinhas e de pontos mais movimentados. Entre eles, nove funcionam e dois estão em manutenção.
A autônoma aposentada Rose Rabelo, 55 anos, costuma correr pelo parque. Quando bate a sede, ele recorre aos equipamentos, que considera essenciais.
– Para quem não tem o costume de andar com uma garrafinha de água, é uma baita ajuda – diz Rose.
Depois de brincar no escorregador e correr de um lado para o outro em uma das pracinhas da Redenção, a pequena Alice Martinez, seis anos, utiliza o bebedouro mais próximo para se refrescar. Mãe da menina, a professora Cristiana Martinez, 40 anos, acredita que a água disponível de graça faz a diferença na rotina de quem frequenta a Redenção:
– Apesar de alguns não funcionarem, ajuda muito quando tem um por perto para matar a sede.
O que dizem os responsáveis
/// Mercado Público – A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) explicou que não é possível instalar bebedouros no local, em função das normas do Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio, pois a parte central e os corredores devem estar desobstruídos. Além disso, por ser tombado pelo patrimônio histórico, o local tem regras restritivas quanto ao encanamento. A possibilidade será avaliada quando o segundo andar for liberado.
/// Orla do Guaíba – Empresa que adotou a nova orla, a Uber explica que cogitou a instalação dos equipamentos. Porém, este item não foi previsto no projeto de revitalização. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams) confirmou a informação.
/// Praça da Alfândega – A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) aponta as dificuldades de manutenção e o vandalismo como razão para retirada da maior parte dos bebedouros das praças. Segundo a SMSUrb, uma das peças do equipamento chega a custar R$ 400, o que dificulta o reparo. Por isso, não está nos planos colocar bebedouros nos locais.
/// Parque da Redenção – Segundo a Smams, o local possui 11 bebedouros, dois deles em manutenção. A conservação é feita com frequência.
/// Terminal Parobé – Segundo a prefeitura, não há projeto para instalação de bebedouros em terminais de ônibus.