Na próxima sexta-feira (15), depois de ficar sem desfiles de Carnaval em 2018, Porto Alegre voltará a ser palco para a passagem das escolas de samba das séries Ouro e Prata — os antigos grupos Especial e Acesso. A festa volta a sua sede na Zona Norte, o Complexo Cultural do Porto Seco. O local sofre com o abandono do poder público há alguns anos, como demonstrado em reportagens nos anos de 2017, 2018 e 2019.
Para este ano, os desfiles foram organizados pelas escolas, sem auxílio da prefeitura ou da Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa). Porém, a administração municipal ficou responsável pela limpeza do Porto Seco e auxílio com serviços básicos de segurança, saúde e orientação do trânsito no dia dos desfiles.
Neste domingo (10), a reportagem circulou pelo complexo cultural novamente e verificou que a situação mudou pouco desde a última visita, em janeiro. Parte do mato foi cortada, mas no arredor dos barracões a vegetação ainda está alta. Em alguns pontos, há lixo concentrado. Além disso, problemas nas cercas permitem a livre circulação nas dependências do local.
A pior situação está relacionada ao fornecimento de energia elétrica. O Porto Seco, em razão da falta de segurança, é alvo frequente de furtos nas fiações. Por isso, há cerca de meio ano, o local está sem energia elétrica. Improvisos são necessários para que haja luz ao menos nos barracões.
— Fazer o Carnaval deste ano está sendo um desafio sem tamanho. Só vamos conseguir por termos materiais de outros anos guardados nos barracões. A energia elétrica para os desfiles vai ser fornecida por meio de geradores, já que quase toda a fiação das duas estações do sambódromo foram furtadas — conta o presidente da Imperatriz Dona Leopoldina, André Santos.
Uma das mudanças para a realização dos desfiles foi a retirada das arquibancadas. O modelo projetado pelas escolas não foi autorizado pelos bombeiros durante a elaboração do Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). Assim, não houve tempo e, principalmente, dinheiro, para contratar outro modelo de arquibancada.
— Teremos apenas os camarotes, que não serão elevados. Onde ficariam as arquibancadas, as pessoas poderão assistir aos desfiles gratuitamente — explica o presidente da Imperatriz.
Para quem vive do Carnaval e mora no Porto Seco, a expectativa de ver a festa voltar ao local é grande. Porém, ainda há o receio e o medo deixado pelo cancelamento dos desfiles em 2018. Esse pensamento assombra um dos maiores carnavalescos da Capital, Gilson Lucena, 68 anos. Atualmente, ele mora no barracão da Escola Copacabana, da Série Prata. Ele desenhou os carros da agremiação para os desfiles de 2017 — que não ocorreram pela falta de PPCI. Naquele ano, só o Grupo Especial desfilou. Como no ano passado o evento não aconteceu, os carros desenhados e montados por Gilson seguem aguardando a hora de entrar na avenida.
— Eu ainda tenho medo de não acontecer. Só vou acreditar na sexta-feira, quando entrarem na pista — diz o carnavalesco.
Prefeitura garante que vai cumprir sua parte
Os serviços oferecidos pela prefeitura como forma de auxiliar na realização do Carnaval serão cumpridos integralmente, conforme o secretário-adjunto de Cultura da Capital, Leonardo Maricato. A principal demanda, de capina e limpeza da área do complexo cultural, será cumprida até sexta, segundo Maricato.
O secretário pontua que um trabalho de segurança também vem sendo feito no local para coibir o furto de fios. Segundo ele, no sábado (9), um homem foi preso pela Guarda Municipal enquanto tentava fugir com fiações que havia furtado. Para o dia do evento, a Brigada Militar também vai auxiliar na segurança do evento, que contará ainda com vigilância particular contratada pelas escolas.
— Vamos cumprir nossa parte do que foi acordado com as escolas de samba. Ainda teremos a presença de agentes da EPTC para auxiliar no trânsito e um posto da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) — explica Maricato.
Quanto aos problemas com o furto de cabos de energia, o secretário-adjunto explica que a prefeitura segue com estudos que apontarão os gastos necessários para o restabelecimento da distribuição de energia. Porém, não há prazo para conclusão e nem para que a luz volte.