No Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira (8), a atleta Simoni dos Santos, 32 anos, desembarca na Tailândia, na Ásia, para participar do campeonato mundial de muay thai. Após lutar na Copa RS do esporte, ela foi classificada para participar do campeonato mundial em Bangcoc, capital tailandesa. Simoni irá lutar pelo título da categoria 60 quilos no torneio da WMO (World Muay Thay Organization) e terá a companhia de outros 28 atletas brasileiros.
Para chegar a este sonho, a atleta lutou muito. Além dos treinos diários na Academia MFT Lutas, onde é bolsista, precisou correr atrás do dinheiro necessário para a viagem, inclusive com uma vaquinha. A história dela foi contada no Diário Gaúcho no dia 22 de fevereiro.
Simoni é uma mulher forte, obstinada. Por trás do rosto sorridente, existe uma história de vida de muitas dificuldades. Ela cresceu no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, onde morava com a mãe Zulmira, 58 anos, o padrasto Roberto, 52, e mais nove irmãos.
A família humilde vivia apenas com o dinheiro da venda de material reciclado. Com sete anos, ela saía da escola e ia para rua cuidar de carros e pedir dinheiro.
– Fui até os 15 anos assim. Mas fui ficando maior e comecei a sentir vergonha de fazer aquilo – conta.
Nesta época, Simoni fazia aulas de balé em um projeto social da UFRGS, mas fugia das aulas para ir aos treinos de judô que ocorriam na sala ao lado. A arte marcial permaneceu na vida da menina até os 18 anos, quando veio a primeira gravidez.
Altos e baixos
Aos 20 anos, conheceu o atual marido, Humberto Marques, 42 anos, e uma nova virada na vida aconteceu. De mudança para Tramandaí, ela teve a oportunidade de trabalhar em uma fábrica de doces.
Tudo caminhava bem até que um revés desestruturou, novamente, a família. Um dos irmãos de Simoni, então com 20 anos, morreu quando ela estava grávida de seis meses de seu quarto filho e, após seis anos no Litoral, a família precisou retornar para Porto Alegre. Simoni entrou em depressão e parou de trabalhar.
Com 95 quilos distribuídos em 1,67cm, Simoni ouviu de um amigo que deveria voltar a frequentar uma academia. Sem condições de pagar pelas aulas, ela começou a treinar em um saco de pancadas do local até conseguir uma bolsa. A luta ajudou Simoni a enfrentar a depressão e a cozinheira conseguiu voltar ao trabalho.
"Desistir não faz mais parte dos planos"
Simoni passou a fabricar doces. Diariamente, entra madrugada produzindo os cerca de 800 docinhos que vende nas ruas de Porto Alegre. Para dar conta de tudo, casa, trabalho e treinos, dorme pouco: em média, duas ou três horas por dia.
– Vou a pé, sozinha, por todos os bairros da cidade. E, graças a Deus, sempre consigo vender todos – comemora.
O dinheiro é uma importante fonte de renda da família, complementada pelo trabalho de Humberto, que é mecânico. Apenas nos últimos três meses os doces não foram fabricados, para que a lutadora pudesse dar conta das 12 horas de treino diário.
Desde que começou a treinar muay thai, Simoni participou de oito campeonatos em Porto Alegre e ficou, em todos, nas primeiras colocações.
– Sua força vem de tudo que já passou na vida. Ela é muito forte e não desiste na hora da luta. É uma pessoa que serve de exemplo, pois não reclama dos problemas – conta o treinador responsável, Thiago Minu, 39 anos.
Futuro
Se vencer o campeonato na Tailândia, Simoni terá reconhecimento mundial e poderá disputar uma vaga no Bolsa Atleta – programa do governo federal que patrocina atletas brasileiros de alto rendimento em competições nacionais e internacionais.
A partir desta sexta-feira (7), corpo e mente estarão em Bangcoc, mas o coração fica no Brasil.
– Vou lá para ganhar. Vai ser difícil, eu sei, mas é a minha história, quero ser exemplo para os meus filhos. É preciso ter coragem e nunca desistir. Depois que a gente tem filhos, desistir não faz mais parte dos planos – declara a atleta.