Quem andar de ônibus ou de trem hoje sentirá no bolso o peso dos reajustes das passagens. Os dois principais modais de transporte público – para quem mora na Capital ou em cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos – iniciaram a operação com nova tarifa. No caso dos coletivos, a passagem subiu 9,3%, de R$ 4,30 para R$ 4,70.
No trem, o reajuste foi de R$ 3,30 para R$ 4,20 – aumento de 27%. As integrações também terão seus custos elevados. Quem usa o trem e os ônibus da Capital passará a pagar R$ 8,01 pela integração – até ontem o valor era de R$ 6,84.
A integração com as linhas da Vicasa em Canoas passará de R$ 7,37 para R$ 8,18. Quem recarregou o TRI ou o SIM até ontem, pagará o valor antigo das tarifas da Capital e do Trensurb pelos próximos 30 dias. Depois disso, o valor passa a ser o atual.
Como, por lei, o preço da lotação deve ser entre 1,4 e 1,5 vezes maior que o do ônibus, a passagem dessa modalidade também subiu. Agora, a tarifa das lotações custa R$ 6,60.
Insatisfação dos passageiros
Para muitos usuários, a qualidade dos modais não justifica o aumento. Tanto no trem quanto no ônibus, as principais reclamações estão relacionadas ao sucateamento das frotas e à falta de ar-condicionado.
Impacto no bolso
Morando em Porto Alegre há um mês, a mineira Bárbara Iolanda Amaral da Silva, 22 anos, tem usado o ônibus com frequência. Voluntária em um projeto social na Vila Ipiranga, Bárbara notou diferenças entre os sistemas da Capital e de Minas Gerais.
— Está ficando caro para todos andar de ônibus. Mas sinto que os ônibus são mais velhos aqui — conta.
Para a estudante de administração Bruna Silva de Souza, 25 anos, do bairro Moradas da Hípica, na Zona Sul, “os ônibus estão sucateados”.
— Hoje peguei um ônibus com o apoio de braço quebrado. Pagamos um alto preço por um serviço que está abaixo do aceitável — critica Bruna.
A autônoma Evelise Zimmer, 40 anos, costuma se deslocar de São Leopoldo para Porto Alegre de trem. Como paga a passagem em dinheiro, acredita que o aumento vai impactar no seu orçamento. Filha de Evelise, a atendente comercial Eduarda Zimmer, 19 anos, destaca ainda que, pelo custo da tarifa, os trens poderiam ser mais limpos.
— Esse aumento não corresponde ao serviço que nos é oferecido — avalia.
O barbeiro Douglas Henrique da Silva, 32 anos, usa pouco o trem e uma das razões é o custo da passagem.
— Quando pego um desses vagões novos, não me incomodo pelo preço. Mas para quem usa todo dia, e enfrenta trens mais velhos, é complicado.
Justificativas para reajustes
Representante dos consórcios de ônibus da Capital, a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) acredita que a principal razão para o aumento da tarifa está no número de isenções do sistema. Em nota, a instituição explica que os ônibus carregam uma parcela de usuários que não paga, como idosos acima dos 65 anos, por exemplo. E a outra parte dos usuários, que paga para usar, vem caindo ano a ano.
Nas palavras do diretor executivo da ATP, Gustavo Simionovschi, “com menos pessoas para dividir a conta, ela fica maior”. Uma das opções, segundo o diretor, seria a busca de outras fontes de receita que subsidiassem essas gratuidades, como o apoio do poder público. Atualmente, todo o custeio do sistema de ônibus depende somente do que é arrecadado com a cobrança da tarifa.
Última parcela da recomposição tarifária
Já a Trensurb defende que esse reajuste é “a última parcela de uma recomposição tarifária referente ao período de 10 anos sem alteração no valor da passagem”. Em nota, a administradora diz que, no tempo em que o preço da passagem foi congelado, os custos da empresa “tiveram aumento substancial, em especial o pagamento do consumo de energia elétrica”.
Ainda assim, a Trensurb ressalta que, mesmo com a alteração no valor, o trem continua tendo a menor tarifa entre os transportes metropolitanos, sendo mais barato que o valor da passagem de ônibus entre os municípios da Região Metropolitana, excluindo-se a Capital.