Pela segunda vez, os alunos da Escola Dom Pedro I, do Bairro Glória, na zona sul de Porto Alegre, não poderão iniciar o ano letivo no prédio próprio da instituição. O local está totalmente reformado, mas não poderá receber os estudantes na próxima quarta-feira, dia 20, quando começam as aulas da rede estadual, por falta de um documento de desinterdição do Corpo de Bombeiros da Capital.
No ano passado, nesta mesma época, a escola estava interditada devido a um temporal que danificou parte do prédio em setembro de 2017. No começo do ano letivo de 2018, a obra sequer havia começado. Agora, embora a reforma já tenha sido concluída, mais uma vez os alunos não poderão ocupá-la devido ao processo de desinterdição do prédio, ainda não feito.
A forte chuva de setembro de 2017 destruiu parte do telhado, corredores, fiação elétrica e o forro. A Secretaria Estadual de Educação
(Seduc) informou que a obra da cobertura e da parte elétrica custou R$ 222 mil e foi finalizada no começo do mês de fevereiro. Segundo a Seduc, a direção da instituição de ensino já recebeu o termo provisório de conclusão do serviço.
Agora, é necessário que o Corpo de Bombeiros realize a desinterdição do local, para que a direção faça a logística dos materiais para receber os estudantes. A expectativa é que as aulas retornem normalmente no dia 28 de fevereiro. Procurado pela reportagem, o Corpo de Bombeiros informou, porém, que a Seduc não fez nenhum pedido de desinterdição da Escola Dom Pedro I e que sequer encaminhou o projeto da obra para análise.
Transtorno
Sem um prédio próprio, os estudantes foram, em 2018, remanejados para a Escola Euclides da Cunha, no bairro Menino Deus, a quatro quilômetros da Dom Pedro I. A mudança trouxe transtornos para as rotinas das famílias que precisaram pegar dois ônibus para ir até a escola e mais dois ônibus para retornar. As mães Franciele Winck da Silva, 28 anos, e Maria Lúcia Meryn Centeno, 42 anos, passaram todas as tardes do ano letivo de 2018 na escola, aguardando o término da aula, para economizar as passagens.
– A gente só quer que nossa vida volte ao normal, porque a escola está pronta – argumenta Franciele.
Preocupadas que as novas promessas da Seduc não se cumpram, um grupo de mães foi, na última sexta-feira, até o departamento de Obras da Seduc e ao Corpo de Bombeiros em busca de informações. Retornaram com muitas dúvidas e o medo de que meses se passem até que a desinterdição seja liberada.
Entre familiares, frustração e insegurança
O que mais revolta as mães de alunos é que a entrega das notas finais do ano de 2018, em dezembro, já havia ocorrido nas dependências da Dom Pedro I e que, na ocasião, a direção da escola garantiu que o ano letivo de 2019 começaria no espaço reformado. Antes da entrega dos boletins, as mães contam que foram chamadas na escola para mutirão de limpeza:
– A escola está nova e nos deram garantias de que as aulas começariam aqui – afirma Silvia Nara Quiroga, 43 anos, com três filhos na instituição, dos quais um cadeirante.
Ela reclama que enquanto a Dom Pedro I é completamente acessível ao filho de 14 anos, a Euclides, no Bairro Menino Deus, não oferece as mesma facilidades, sem contar a distância e a dependência de ônibus com acessibilidade.
– A escola está pronta e não podemos usá-la. Isso é um descaso com a gente – considera a dona de casa Mara Pereira, 33 anos, com três filhos na escola.
Com a certeza de que as aulas recomeçariam na Dom Pedro I, a empregada doméstica Sandra Mara Plucani, 52 anos, que tem dois filhos na escola, se programou para não comprar passagens de ônibus para os filhos, já que mora perto da escola ainda desativada:
– Quando a gente pensa que está tudo certo, é surpreendido com isso. Isso é muito frustrante, gera uma insegurança na gente.