A próxima segunda-feira (26) será de retorno às aulas nas escolas estaduais para cerca de 900 mil alunos no Estado, em 2,5 mil instituições. Na Capital, são 130 mil estudantes que irão rever colegas e conhecer seus professores. Mas, para muitos, o começo do ano será atípico, por bons ou por maus motivos.
Na Escola Dom Pedro I, do bairro Glória, os estudantes sequer têm um prédio próprio para dar a largada no ano. Enquanto isso, na Escola Maria Cristina Chiká, na Lomba do Pinheiro, os alunos comemoram a conclusão do prédio esperado desde o ano 2000 e vivem a expectativa de voltarem à sala de aula em uma estrutura nova.
Ainda há os que sequer saíram de férias. Das 257 escolas estaduais de Porto Alegre, 176 retornam na segunda e a outra parcela no dia 15 de março. Quatro escolas, porém, seguem com aulas até dia 7 de março, em função da adesão total à greve do magistério em 2017, e devem retornar apenas em abril.
Alunos remanejados após temporal
Os alunos da Dom Pedro I, no bairro Glória, não usarão a estrutura da escola para a volta às aulas. Depois que o local foi atingido por um temporal em setembro do ano passado, parte da estrutura, como telhados e corredores, foi destruída. A fiação elétrica e o forro precisam ser substituídas. A escola foi interditada, e a obra, prometida para iniciar ainda em setembro, ainda não começou.
Com isso, os alunos foram transferidos provisoriamente para a Escola Euclides da Cunha, no bairro Menino Deus, a quatro quilômetros da Dom Pedro I. Porém, para fazer o trajeto até lá, é preciso pegar dois ônibus. A merendeira Silvia Nara Quiroga, 42 anos, vai gastar R$ 48,60 todos os dias para levar e buscar os filhos Marcos Vinicius, 13 anos, que é cadeirante e é isento de pagar a passagem, Isadora, 10 anos, e Jadson, oito anos. A família embarca na linha Glória e depois no T2 para chegar ao Menino Deus.
— Só aceitamos a condição de levar eles de setembro a dezembro até a outra escola, porque nos garantiram que em março começaríamos as aulas na Dom Pedro I. Mas não tem nem sinal de obra. Só nos enrolam — protesta.
Para Silvia, o problema é maior, pois a Escola Euclides não tem acessibilidade para o filho mais velho, que tem distrofia muscular de Duchenne. Já a dona de casa Solange Curth,
35 anos, ficava todo o período de aula, à tarde, esperando os filhos Giovani, 11 anos e Giovana, sete, na escola, para não precisar pagar mais duas passagens indo e voltando:
— Tentamos vender salgado na escola para pagar as passagens, mas não foi possível. Nos sacrificamos para eles não perderem o ano e continuarem com as mesmas professoras — diz Solange.
A Seduc informou que a obra para recuperar a escola é orçada em R$ 143 mil. Segundo a secretaria, na semana passada, a empresa ganhadora da licitação entregou todos os documentos, que estão sendo avaliados pelo departamento jurídico. A previsão é de que, até o final do mês, seja expedida a ordem de início de serviços. De acordo com a documentação, o prazo para a conclusão das obras é de 30 dias.
Até a obra ficar pronta, os alunos, mais uma vez, serão remanejados para a Euclides da Cunha ou para outra escola que preferirem. A Seduc informa ainda que ofereceu passagens aos estudantes para transporte público, mas as mães ouvidas pela reportagem não confirmam.
Além da Dom Pedro I, outra escola que está fechada enquanto aguarda reformas é a Jerônimo de Ornelas, no bairro Aparício Borges. Das 257 escolas da Capital, outras duas estão com setores interditados, embora funcionem parcialmente: Antão de Farias, no bairro Bom Jesus, e Duque de Caxias, no bairro Menino Deus. Ambas aguardam ordem de início das obras para que passem por reformas.
Um novo prédio para os estudantes da Chiká
Uma escola que estava praticamente pronta, mas com obra parada há um ano, será finalmente ocupada pelos alunos a partir de segunda-feira. Na Lomba do Pinheiro, os alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Maria Cristina Chiká estão ansiosos para entrar no prédio que é uma reivindicação da comunidade desde o ano 2000. No final de janeiro, a escola foi liberada após a conclusão dos últimos reparos, como colocação de vidros nas janelas, classes, privadas e pintura em duas portas. Para as limitações na rede elétrica, que dependem da construção de uma subestação, foram feitas adequações provisórias para que o prédio possa ser utilizado. Segundo a Seduc, as obras para a colocação da subestação de energia devem começar ainda em março, com prazo de conclusão de 30 dias.
Ryan Gonçalves Monteiro da Costa, 14 anos, que vai para o sétimo ano, mudou até a rotina das férias. Acordou cedo, na manhã de quarta-feira (21), para ajudar a carregar as 180 classes e cadeiras que foram entregues na escola.
— Pulei da cama às 8h para vir aqui ajudar. Estamos na expectativa de que teremos um ano melhor em um prédio novo. No outro prédio, passávamos calor, a sala de aula tinha dois ventiladores, mas só um funcionava — comenta Ryan.
Ricardo Pedroso, 14 anos, indo para a oitava série, se juntou a várias pessoas da comunidade que se empenharam em receber o mobiliário que faltava.
— Já tínhamos perdido a esperança de estudarmos no prédio novo — admite Ricardo.
A diretora da escola, Ivelise Camboim, está realizando, além do seu, o sonho do diretora que a antecedeu, Gleci Medeiros, que lecionou na escola desde 1991 e já se aposentou:
— Estou de alma lavada, essa é uma luta de vários anos. É bom demais ver a empolgação dos alunos.
Transtorno para quem ainda estuda
Enquanto 176 escolas estaduais retornam às aulas nesta segunda-feira, o que representa quase 130 mil alunos só na Capital, alguns estudantes nem terminaram o ano letivo. É o caso de quatro escolas de Porto Alegre que aderiram a toda extensão da greve do magistério em 2017 — de setembro a dezembro: Colégio Júlio de Castilhos e escolas América, no Jardim Ingá, Antão de Faria, na Bom Jesus, e Evarista Flores da Cunha, no Belém Novo.
Na Escola América, mais de 400 dos 780 alunos ainda estão em aula em 18 turmas. Para completar as 800 horas de aula, algumas terão aula até o dia 7 de março, com previsão de começo das aulas relativas a 2018 em abril.
Na avaliação da dona de casa Ila Marias Santos da Silva, 42 anos, é um transtorno a filha Ana Luísa, 10 anos, ter aulas nesse período:
— Ela vê todos os amigos de férias e só ela estudando. Mas trago ela todos os dias para a escola, não deixo ela perder nada.
Mas a menina não vê a hora de entrar em férias. A diretora da escola, Lorena Souza, reconhece que este sentimento dos alunos, o calor e a época do ano desmotivam os alunos e, consequentemente, afetam sua produtividade.
— Para os alunos que foram viajar no período, pedimos que avisassem antes e tivessem o compromisso de na volta recuperar o conteúdo e fazer as avaliações — explica.