Um projeto que se propõe a reduzir os congestionamentos nos horários de pico na principal ligação entre Viamão e Porto Alegre nunca saiu do papel. A proposta de extensão da Avenida Ipiranga até o bairro Santa Isabel, em Viamão, passando pelo campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi discutida inclusive dentro do governo do Estado. Mas, por entraves com a universidade e falta de dinheiro da prefeitura da Capital, foi esquecida. Hoje, é considerada de difícil execução.
A ampliação demandaria asfaltamento e duplicação de um trecho de cerca de quatro quilômetros da Ipiranga, entre a Antônio de Carvalho e a Lomba do Sabão, paralelo à Avenida Bento Gonçalves. Em 2014, a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) criou um grupo de trabalho, que realizou reuniões técnicas com a prefeitura de Porto Alegre, UFRGS e parlamentares. O ex-superintendente da Metroplan Oscar Escher afirma que falta vontade política de priorizar a região, que ganharia inclusive na área de exploração imobiliária. Ele defende a viabilidade da proposta:
— A criação de uma nova rota para Viamão é, além de técnica e economicamente viável, extremamente necessária.
Na época, a Metroplan chegou a estimar um custo de R$ 30 milhões entre obras e reassentamentos necessários para expansão. Atualmente, não há projetos na Metroplan.
A página do Facebook "Eu quero o prolongamento da Ipiranga até Viamão" foi criada pelo vereador da cidade vizinha à Capital Jessé Sangalli. Um adesivo foi impresso e distribuído para dois mil motoristas, segundo o parlamentar, que classifica a Bento Gonçalves como "o pior acesso da Região Metropolitana".
— Antes, o problema era na BR-116, mas foi resolvido com a criação da Rodovia do Parque (BR-448) — compara.
Ipiranga tem trecho de chão batido, que não receberá asfalto
Considerada "início da extensão" pelos defensores do projeto, o extremo leste da Avenida Ipiranga tem um trecho de cerca de 800 metros sem pavimento. O percurso em nada se parece com a movimentada via. A sensação ao trafegar pelo chão batido, entre a Avenida Antônio de Carvalho e o Beco dos Marianos, é que se chegou a um município do Interior.
Os moradores da área têm suas casas empoeiradas na ruela semelhante a uma pista de rali, com buracos, valetas, poças d'água e barro, passando ao lado do Arroio Dilúvio. O pedreiro Admar Souza dos Santos, 32 anos, afirma que dificilmente passa alguma patrola pelo local:
— É complicado. De vez em quando, eles (a prefeitura) passam com a patrola, mas é muito difícil.
A aposentada Isaura Oliveira, 65 anos, caminha na poeira, desviando dos veículos, pois não há calçada para os pedestres:
— É brabo conviver com a poeira, sempre.
O motorista Jairo Hermes, 42 anos, mora no Beco dos Marianos há duas décadas. Segundo ele, desde a época em que o pai comprou a propriedade, nos anos 1970, se fala em asfaltar o trecho próximo à sua casa. Mas o projeto "fica só na conversa".
— Esse projeto de asfalto aqui já é antigo. Inclusive, de ampliar a Ipiranga. Garanto que há pelo menos 30 anos tem essa conversa.
A passagem é tão estreita que fica difícil desviar do veículo que vem no sentido oposto. Há lixo acumulado no caminho paralelo à continuação do Arroio Diluvio.
A EPTC foi procurada desde segunda-feira, mas afirmou que o diretor-presidente, Marcelo Soletti, estava sem espaço na agenda para um entrevista sobre o assunto. O órgão limitou as respostas a uma nota, em que ressalta que foi aberto um processo administrativo para avaliar o trecho de terra, cuja conclusão foi que o asfaltamento é inviável.
A prefeitura defende ainda que ampliar as faixas no trecho "não daria ganho considerável para mobilidade" e que seriam necessárias desapropriações e reassentamentos, "um elevado custo, para os quais não existem recursos".
Para sair do papel
Para o projeto sair do papel, a prefeitura de Porto Alegre precisa chegar a um acordo com a universidade e abrir novas conversas com a Metroplan. Nos estudos, há um traçado que passaria próximo à Bento Gonçalves, por vias internas do campus. Essa não tem concordância da UFRGS, pois mexeria com a rotina dos estudantes. A outra ideia seria fazer a duplicação pelo Morro Santana, onde haveria também extenso dano ambiental.