Um empresário ouvido pela Polícia Civil revelou que o então diretor-adjunto do extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Francisco Eduardo Mellos dos Santos, teria exigido propina sobre o valor do contrato de hidrojateamento de redes pluviais, que era de cerca de R$ 1 milhão. O inquérito que investiga irregularidades no órgão de Porto Alegre, reveladas por Zero Hora em 2016, foi encaminhado à Justiça em dezembro — nove pessoas foram indiciadas, incluindo dois ex-diretores, três servidores, dois empresários e dois funcionários de empresa investigada.
Segundo o empresário, os pagamentos ocorreram durante um ano. Ele também revelou o banco em que fazia os saques e o local onde supostamente encontrava Mellos para repassar a quantia mensal, em dinheiro vivo — em torno de R$ 20 mil.
Gilvani Dall Oglio, gerente-geral da Ambiental BR, contou que antes da assinatura do contrato para serviços de hidrojateamento, depois de concluída a licitação, foi chamado por Mellos para uma conversa em uma churrascaria. Neste encontro é que o então diretor-adjunto teria feito a exigência de pagamentos para manter o contrato.
Teria ainda referido a necessidade de "ajuda" para a campanha a vereador de Tarso Boelter (PP), diretor-geral do DEP à época. Boelter confirmou em depoimento que foi convidado para o encontro, mas garante que não compareceu. Também disse saber que Mellos pretendia aproximá-lo de uma empresa que poderia ajudar na campanha de Tarso à Câmara de Vereadores em 2016.
Conforme Gilvani, Mellos teria estipulado propina de 25% do valor de cada fatura mensal, mas nas duas primeiras "parcelas", o preço para manter o contrato foi de 50% da fatura. Os repasses teriam sido feitos sempre em dinheiro vivo. João Batista dos Santos Teixeira, dono da empresa JB e parceiro de Gilvani no contrato com o DEP, também admitiu ter dado valores em mãos para Mellos. Teria feito entregas na sala que o diretor-adjunto ocupava na sede do departamento, na Rua Lima e Silva. Além disso, ainda dentro da sistemática de "ajuda mútua", Teixeira contou ter conseguido com Mellos emprego para uma filha e para a nora no DEP.
Para garantir a propina, Mellos teria acertado que a empresa declararia em planilhas serviços a mais, ou seja, não executados. Alguns depoimentos informam, inclusive, que em determinado momento essas planilhas passaram a sair prontas do DEP, pelas mãos de Mellos. A empresa as recebia e as repassava de volta para fazer a cobrança. Os valores por serviços superfaturados seriam pagos na íntegra e, depois, uma parte reverteria para Mellos. Para a polícia, mais pessoas se beneficiaram da propina, entre elas, Boelter. Gilvani explicou em depoimento que a "fraude consistia em atestar nas planilhas a prestação de serviços em ruas que o depoente jamais esteve, bem como colocar metragem (da rede pluvial que supostamente recebeu o serviço de hidrojato) a maior do que efetivamente era realizada".
Apuração feita pelo próprio DEP à época e também auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE) comprovaram as cobranças superfaturadas. Mellos delegava a subordinados a missão de validar as planilhas com declarações falsas de serviços. Paulo Guilherme Silva Barcellos da Silva, que comandava a Divisão de Conservação, atestou vários desses trabalhos. Além dele, o ex-chefe da seção Centro do DEP, Rogério dos Santos Faccio, e o ex-chefe da seção Norte, Ailton Verlei Montenegro, também validavam informações falsas e foram indiciados.