Waldo não esperou a mãe chegar ao hospital para vir ao mundo. A duas quadras do Conceição, já na Rua Francisco Trein, na zona norte de Porto Alegre, a haitiana Judith Fleurissaint Baguidy, 38 anos, teve de deitar na calçada e, auxiliada por um policial militar, deu à luz o quarto filho por volta das 8h30min desta sexta-feira (21).
A postos no seu tradicional ponto de patrulhamento, na esquina da Avenida Assis Brasil com a Rua Francisco Trein, o soldado Luan Ribas Bazzan, 28 anos, foi chamado por uma senhora com urgência para ajudar no parto e correu até lá.
— Não deu tempo de muita coisa. Cheguei, me abaixei e a criança já estava saindo. Coloquei as mãos para que ela não caísse e tive apenas de dar só uma puxadinha, e então o bebê já estava nos meus braços — conta o PM, ainda tremendo, literalmente, de emoção.
Bazzan diz que tentou conversar com a mãe, mas ela não entendia o que ele dizia. Por sorte, o marido dela,Waky Joseph, 33 anos, estava ao lado e conseguiu se comunicar em um português acanhado, contando que são imigrantes e estavam a caminho do hospital.
— A gente tem de estar preparado para tudo, mas jamais esperava por isso. Foi tudo muito rápido, mas muito emocionante. Sinto que cumpri uma missão — acrescenta o soldado.
Logo que menino nasceu, a soldada Luana Flores da Silva, que passava pelo local, correu até o Hospital Conceição para pedir ajuda. De imediato, uma equipe de plantão foi a pé até lá e prestou os primeiros socorros.
Quando as enfermeiras chegaram, não havia mais tempo de ajudar no parto, mas elas conseguiram cortar o cordão umbilical e, então, mãe e filho foram levados na viatura da Brigada Militar para serem atendidos no hospital. Lá, descobriram que Waldo nasceu com 48 centímetros e 2,99 quilos.
De acordo com o gerente das Unidades de Internação do Conceição, José Accioly Jobim Fossari, a mãe passou exames no centro obstétrico e o bebê também teve um check-up. Como ambos estavam bem, ainda pela manhã foram para o quarto.
— Graças a Deus, mesmo sendo numa calçada, ocorreu tudo da melhor forma possível. Mãe e filho passam muito bem — afirmou Fossari.
Ainda conforme o gerente, o recém-nascido é o quarto filho da haitiana, fato que interferiu diretamente na forma como o bebê veio ao mundo:
— Se ela fosse mãe de primeira viagem, todo o processo do parto demoraria horas e provavelmente ela chegaria a tempo do parto ser feito no hospital. Mas como já ela é multípara (mulher que já teve mais de um filho), quando apresentou os sinais, já estava ganhando a criança — explicou.
O vendedor Edson Abreu dos Santos, 50 anos, voltava do hospital, onde havia marcado um exame, quando se deparou com a situação inusitada. Apressado para ir ao trabalho, fez uma foto e, assim que viu que estava tudo bem, seguiu caminhando.
— Achei tudo muito lindo, porque é a natureza, né? Quando um filho decide vir ao mundo, não tem quem segure. É a hora dele e pronto — disse Santos, que teve uma filha prematura há 16 anos e que hoje vive bem.
Comandante do 11º Balhão da Polícia Militar e chefe dos soldados Bazzan e Luana, o tenente-coronel Douglas da Rosa Soares destacou a sensibilidade com que os policiais lidaram com a situação inusitada:
— A maior missão da Brigada é salvar vidas e ajudar quem precisa. Nós não só tiramos vidas e não desejamos o confronto (com criminosos). E, agora, bem perto do Natal, pudemos ajudar a trazer ao mundo um bebê, um filho de estrangeiros. Isso não tem preço para nós.