Histórias anedóticas de passageiros não faltam. Guido Gilberto, motorista do aplicativo Uber há cinco meses, conta uma recente, de uma passageira de idade, aparentemente avó da menina e do bebê que carregava.
— Chegamos ao destino e ela colocou o bebê no meu colo. "O senhor segura um pouquinho enquanto eu vou ali com ela?" — perguntou a passageira, saindo do carro com a outra criança pelo braço antes da resposta.
E ali ficaram, Guido e o bebê, se encarando incrédulos. Ser uma avó desnaturada seria um motivo para tirar uma estrela da passageira? GaúchaZH circulou com motoristas do app em Porto Alegre perguntando quais critérios eles usam na hora de avaliar os passageiros. Com que comportamentos os clientes ganham ou perdem suas cinco estrelas.
As avaliações são bastante subjetivas. A própria Uber recomenda algumas atitudes aos passageiros (veja abaixo), mas, na opinião do motorista Carlos Marcelo, seria mais simples de garantir uma nota nos trinques se cada passageiro obedecesse a um raciocínio simples: depois dele, virá outro.
Tem gente que chega mandando, como se eu fosse empregado. Pô, é o meu carro. Estou apenas prestando um serviço para aquela pessoa
EVANDRO
Motorista da Uber há dois anos
— Se entrar uma pessoa com a criança com os pés no banco ou comendo algo que faça farelos. Na próxima viagem, eu posso perder nota porque o cliente seguinte achou o carro sujo. Outro dia uma senhora entrou no carro logo depois de ter pisado em um cocô. Aí fica complicado — explica Carlos, motorista há oito meses.
Mas importa se ela não fez de propósito?
— É que ainda por cima ela foi mal-educada quando eu avisei — justifica.
Eis a palavrinha mágica: educação. Para Evandro, dirigindo pelo aplicativo há dois anos, o cliente pode pedir de tudo: outra rádio, outra temperatura, outro trajeto. Ele só perderá nota se o fizer de forma grosseira.
— Tem gente que chega mandando, como se eu fosse empregado. Pô, é o meu carro. Estou apenas prestando um serviço para aquela pessoa — declara Evandro, cuja última avaliação negativa foi para um cliente tão destemperado ao exigir uma mudança de trajeto que foi repreendido pela própria esposa. — Na hora, a gente segura, conta até 10. Mas depois lasquei uma estrela nele.
As pessoas gostam quando a gente dá atenção para o que elas estão passando. É meio terapêutico. Acho que as pessoas estão sentindo falta de conversar, sabe?
ALEXANDRE
Motorista da Uber há um mês
Além da falta de educação, o que mais incomoda motorista é sujeitá-los a situações de insegurança ou a infrações de trânsito. Chamar o Uber e só descer do prédio longos minutos depois da chegada, especialmente à noite, é apontado como o fator número 1 para o motorista avaliar mal. Outro é pedir ao motorista para que faça uma manobra proibida.
— Esse é um problema de fazer Uber no Centro, por exemplo. Pedem muito corridas lá, mas aí os clientes querem embarcar ou descer do carro no meio da rua. Se um azulzinho enxergar e eu tomar uma multa, perco no mínimo a grana de um dia todo de trabalho — comenta Alexandre.
Conforme os motoristas, dificilmente as notas de um cliente caem por causa do papo. Por terem manifestado alguma opinião contrária a do motorista. Como os motoristas sabem que a recíproca nem sempre é verdadeira, boa parte costuma evitar o trinômio política, religião e futebol. Preferem papos mais passíveis de identificação entre clientes e passageiros. Um surpreendentemente popular é doenças, algo que Alexandre já reparou mesmo estando só há um mês no app:
— É incrível. Eu falo as da minha família, os passageiros falam as deles. Todo mundo sofre de algo, então a gente dá palpite, recomenda remédios, tratamentos. Elas gostam quando a gente dá atenção para o que elas estão passando. É meio terapêutico. Acho que as pessoas estão sentindo falta de conversar, sabe? Mesmo com um estranho.
Talvez estejam mesmo. O repórter de GaúchaZH, por exemplo, passou uma tarde enchendo motoristas de perguntas. Sua nota passou de 4.88 para 4.89.
Dicas para uma boa avaliação*:
1. Não faça o motorista esperar
Esteja pronto para partir no momento em que o motorista chegar. Isso incluiu verificar se o ponto de partida está correto.
2. Seja educado
Trate os motoristas com a educação que você gostaria de ser tratado. Atitudes positivas e um certo cuidado com o carro valem muito.
3. Colabore com a segurança
Motoristas não devem ser incentivados a cometer infrações de trânsito. Por exemplo, todo usuários devem usar cinto de segurança.
*As dicas contam no menu "Sua avaliação" disponível no app da Uber.
