Foi a primeira vez que Eduardo* entrou em um estádio de futebol do tamanho do Beira-Rio. E ele jura que foi a primeira vez, também, que participou de uma festa, ainda mais de Natal.
— Eu pensei que uma festa era pequena, que não ia ter esses brinquedos todos. Mas hoje eu vim e tinha!
O menino de nove anos, morador do Abrigo João Paulo, deu a sua avaliação sobre a 5ª Festa de Natal dos Acolhidos de Porto Alegre sentado na arquibancada do estádio, depois de comer cachorro-quente, escorregar nos brinquedos infláveis e jogar futebol com uma bola gigante — por ela, precisou passar espremido sob os gradis que isolavam o campo, para um ágil resgate. Mas o motivo de maior expectativa era a chegada do Papai Noel.
— Eu já mandei cartinha pra ele. Falei: "Feliz Natal e fica com Deus" — relata o menino, que na sequência deu uma lista de sugestões de presente, de boné a tablet.
Realizada pelo Ministério Público, junto com o Inter e o Estádio Beira-Rio, a festa recebeu cerca de 1,2 mil crianças e adolescentes na tarde desta sexta-feira (7), incluindo meninos e meninas que estão em casas lares e abrigos e integrantes dos projetos sociais do clube. Antes do Papai Noel, que chegou em um caminhão de bombeiros, com fogos de artifício e tudo, uma outra figura vestida de vermelho fez sucesso entre as crianças. O Homem Aranha desceu da cobertura do estádio de ponta-cabeça amarrado em cordas, junto com o Batman e uma trupe de super-heróis alpinistas.
A tarde ainda foi marcada por distribuição de presentes e uma sequência de shows, como da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, a Ospa. O MC da VR, da Restinga, subiu ao palco com gritos histéricos de jovens fãs. Ele também chamou duas crianças da Casa Lar Sagrada Família para cantar os funks Sou Favela e Jogo do Amor.
— Eu queria ser jogador de futebol, mas agora eu subi no palco, e já viu — disse, depois do show, um dos meninos.
A promotora da Infância e da Juventude, Cinara Vianna Dutra Braga, relata que houve a oportunidade de convidar pessoas que têm a possibilidade de proporcionar qualidade de vida dentro dos acolhimentos, como habitabilidade e segurança, e, principalmente, pessoas que têm condições de fazer com que os processos de adoção sejam mais céleres. E destacou a alegria das crianças:
— Hoje é dia correr, de ganhar doce, de brilhar. É um momento de felicidade e de esperança também. De que, amanhã ou depois, elas terão uma família.
*O nome foi alterado para preservar a identidade da criança, por recomendação do Ministério Público