Representantes da prefeitura de Canoas, do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), do Ministério Público Estadual e da direção do Hospital Nossa Senhora das Graças se reuniram nesta quarta-feira (7), em Canoas, para discutir medidas de enfrentamento da crise que vive a instituição. Atendimentos eletivos (não urgentes) estão paralisados pois, segundo o Simers, médicos de 40 especialidades que trabalham pelo regime pessoa jurídica (PJ) têm até 12 meses de salários a receber.
Segundo o hospital, o corpo clínico tem por volta de 150 médicos, sendo que 70 deles trabalham como PJ. Para estes, o atraso de salários varia entre quatro e 12 meses.
No encontro, a prefeitura de Canoas propôs adiantar, na semana que vem, R$ 1,5 milhão ao hospital, valor equivalente a um mês de folha de pagamento dos médicos, para a retomada dos atendimentos eletivos.
– Esse valor seria uma sobrevida. Daria fôlego para seguir as tratativas – afirmou o prefeito Luis Carlos Busato.
Segundo a diretora do Simers, Clarissa Bassin, a proposta será levada aos profissionais na quinta-feira (8).
– Daremos uma resposta sobre isso até sexta-feira. Esta seria uma medida emergencial. O Simers acredita que é necessário encontrar uma solução mais duradoura e que esta solução passa pela troca de gestão do hospital – afirma Clarissa.
A gestão do hospital, atualmente feita pela Associação Beneficente Canoas (ABC), foi um dos temas da reunião, segundo o promotor de Justiça Rafael Russomanno:
– Apesar de atender pelo SUS, o hospital é privado. Sabemos que existem tratativas sobre outra instituição assumir a gestão, mas não seria função do Ministério Público tratar disso.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o diretor administrativo e financeiro do Nossa Senhora das Graças, Francisco Valmor Marques de Avila, afirmou que, na avaliação da instituição, a reunião foi “positiva, no caminho de uma solução”.
Risco
Com o atendimento paralisado, os boatos de fechamento da instituição correm. Segundo o promotor, na situação atual do Gracinha, existe risco de interromper os serviços em algumas especialidades.
– Isto ficou claro pelo que foi tratado na reunião. Por isso, a necessidade de adotar medidas emergenciais e efetivas. Está sendo feito um esforço conjunto. Estamos esperançosos de que seja possível manter o atendimento – afirmou.
Outro encontro foi marcado para o final deste mês.
Diante da crise, quem paga são os pacientes
A dona de casa Rosemary Varela Gutierres, 53 anos, moradora do Guajuviras, esteve na emergência do Gracinha no dia 31 de julho, com fortes dores. Ela estava com uma infecção em função de pedras nos rins.
– Eu já tinha vindo aqui outras vezes, feito exames, tinha o diagnóstico de cálculo renal no canal da uretra. Neste dia, foi feito o procedimento para colocar um cateter duplo J (colocado entre um dos rins e a bexiga) – conta ela.
A orientação do médico na data foi para que ela retornasse ao hospital 15 dias depois (ou seja, no meio de agosto) para retirar o cateter e, assim, retomar o tratamento após a infecção. Mas, até agora, isso não aconteceu.
– Só me dizem que os anestesistas estão de greve e não tem previsão de quando eles vão retornar. A gente fica à deriva – desabafa.
Preocupação
Na semana passada, Rosemary conseguiu consultar com um especialista no Gracinha. Ouviu dele, mais uma vez, que a retirada do cateter não poderia ser feita sem anestesia. Enquanto isso, foi encaminhada para outros tratamentos. A preocupação de Rosemary não tem data para acabar.
– Nos falaram que só realizam as cirurgias de emergência. O meu caso não é de emergência, mas se o médico mandou retirar o cateter em 15 dias, não posso ficar tanto tempo com ele.
Tenho medo de que algo mais grave aconteça com relação a isso – finaliza.
Situação parecida vive Rosa Maria de Almeida Viana, 65 anos, dona de casa do bairro Estância Velha. Ela nem sabe dizer há quantos anos é paciente do Nossa Senhora das Graças. Há pouco mais de dois anos, porém, tem frequentado mais o local. É que dona Rosa percebeu uma “bolha” no seio e, desde então, é atendida por um mastologista que acompanha o caso e orienta sobre o tratamento.
– Fiz biópsia e alguns procedimentos, o atendimento era ótimo, nunca tive problemas – conta.
Mas na semana passada a situação piorou. Com dor e sangramento, a canoense esteve no hospital para tentar marcar uma consulta com o especialista. Tudo o que conseguiu foi uma requisição para um exame. Na segunda-feira passada, voltou para agendar a ecografia solicitada.
– Me disseram que só tem para o dia 2 de janeiro de 2019. Imagina, daqui dois meses! E só pra fazer o exame. Consulta, nem se fala. Não sabem quando os médicos vão atender. Se isso que eu tenho for um câncer, ele galopa até lá – desabafa ela, preocupada.