A madrugada de Carlos Eduardo Urbano dos Santos, de 37 anos, começou em uma noite corriqueira do Balada Segura, operação em que o agente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) trabalha há quatro anos e meio em Porto Alegre, e terminou no Hospital de Pronto-Socorro, após ser atropelado pelo motorista de um Corvette decidido a furar o bloqueio — por coincidência, um xará: Carlos Clynton Andrade dos Santos, também de 37 anos, que terminou preso por tentativa de homicídio. Passado o susto, ele conversou com GaúchaZH por telefone, se recuperando de ferimentos na perna.
Como aconteceu o incidente?
Já inicialmente, quando se aproximou da barreira pela (Avenida) Alberto Bins, o carro não obedeceu à ordem de parar dos meus colegas. Eu, que estava mais à frente, comecei a distribuir outros carros de modo a bloquear a passagem dele. Quando eu estava colocando cones no entorno para impedir que ele e outros carros saíssem do local, ele tocou o carro no corredor de ônibus, no contrafluxo. Ao fazer isso ele passou com o carro por cima do meu pé e me atingiu com o retrovisor. Dali, ele saiu e dobrou a esquina (na Rua Garibaldi) em direção à (Avenida) Farrapos.
Você se machucou muito?
Felizmente eu estava com uma bota de EPI (equipamento de proteção individual), senão teria quebrado o pé. Mas estou com uma luxação no tornozelo e bastante dor no joelho.
Foi nesse momento que a Brigada disparou contra o veículo?
Não sei precisar o momento, mas creio que sim. Logo depois de ele me atingir, ouvi dois ou três disparos.
Acontece muito de veículos tentarem furar o Balada Segura?
Infelizmente, sim. Não é exagero dizer que tentativas ocorrem todos os dias. Alguns veículos tentam desviar ou voltar de ré ao avistarem a estrutura. Mas é raro com esse nível de imprudência, colocando em risco a vida de quem está ali trabalhando ou de outros motoristas, que descem dos veículos para conversar com os agentes.
Motoristas de carros que chamam a atenção, como esse Corvette, costumam ter algum padrão de comportamento?
Via de regra, quando surge um carro desses, nós paramos. Há um comportamento associado a esses carros, de saída de festas, por exemplo. Também não é raro carros assim estarem com a documentação irregular. Mas nem sempre isso se confirma, claro.
Você pretende mudar algo no seu comportamento depois desse episódio?
Pensei nisso. Sinceramente, talvez pudesse não ter acontecido, mas talvez também pudesse ter acontecido coisa pior. O que mexeu comigo foi chegar em casa e ver minha família, meus filhos. Me passou pela cabeça que, por pouco, eu poderia não ter voltado.
E ao condutor, você diria alguma coisa?
Na verdade, eu já disse. Depois que a Brigada alcançou ele, o Carlos foi trazido de volta ao local para fazer o etilômetro. Ao me ver ali, sendo atendido, ele veio se desculpar. Respondi que foi sorte de nós dois ele ter tido a oportunidade de me pedir desculpas. Ele poderia ter me matado e carregado uma culpa pro resto da vida. Ou ele poderia ser atingido por um disparo da polícia. Se pudesse dizer mais alguma coisa, gostaria que ele conversasse com outros motoristas sobre o que aconteceu com ele. Que multiplicasse isso para o bem.